Vivenciar um Jubileu é de fato vivenciar um tempo de graça para
nossa vida. Como diria o teólogo alemão Jürgen Moltmann: “podemos entender o
Jubileu como antecipação do reino de Deus na história.”[1] O
Jubileu de Nossa Senhora da Conceição do Turvo em Senador Firmino é um momento
oportuno para tal experiência de fé. São poucas as cidades no Brasil que tem o
privilégio de celebrar um Jubileu reconhecido pela Santa Sé, por meio do qual a
Igreja concede aos seus fiéis a Indulgência Plenária. Eis que Senador Firmino
tem esse grande privilégio. Provavelmente é um dos Jubileus MarianoS Perpétuo
mais antigo do Estado de Minas Gerais completando neste ano 119 anos de festa.
Para isso, vale à pena refletirmos um pouco o que é o Jubileu e como este
acontece desde os tempos bíblicos.
Primeiro vale ressaltar que no tempo do Jubileu a graça de Deus
atua de maneira mais intensa na vida do seu povo. Por isso, dizemos que o Jubileu
é de fato um tempo de graça, um tempo no qual a misericórdia de Deus se derrama
com abundância sobre os seus filhos e filhas, é um tempo de remissão, tempo de
conversão. Percebemos isso, desde o Antigo Testamento quando encontramos a promulgação
da lei do ano do Jubileu em Levítico capítulo 25 v. 8-11: “Contarás sete
semanas de anos, sete vezes sete anos, de maneira que os dias das sete semanas
de anos serão quarenta e nove anos. Então, no mês sétimo, aos dez do mês, farás
soar a trombeta vibrante; no dia da expiação; fareis soar a trombeta em toda a
vossa terra. Santificareis o ano qüinquagésimo e proclamareis uma libertação na
terra a todos os seus moradores; ano de jubileu: cada um de vós voltará a sua
posse e cada um de vós ao seu clã. O qüinquagésimo ano vos será jubileu; não
semeareis, nem segareis o que nele nascer de si mesmo, nem nele colhereis as
uvas das vinhas não podadas.”
O termo Jubileu tem sua origem na palavra hebraica yobel que
tem a ver com o chifre do carneiro que era tocado anunciando este ano. De sete
em sete anos era celebrado o ano sabático e no qüinquagésimo ano era celebrado
o ano do Jubileu. O termo tem a ver igualmente com o “trazer de volta”. Porque
durante o mesmo ano era concedido aos escravos à liberdade, voltando a sua
condição originária, mostrando assim, que eram servos apenas do seu Criador,
igualmente eram devolvidas as terras a seus donos, e durante este ano, havia
também o descanso das terras por causa das colheitas, alem de várias outras
prescrições. Contudo, o ano do Jubileu era considerado o ano do perdão das
dívidas, o ano da remissão. Conforme o livro do Levítico capítulo 25, neste ano
deveria haver várias transformações e libertações, restituindo a igualdade
entre os filhos de Deus. O ano do Jubileu é considerado, portanto, como um meio
para Deus intervir na história humana.
Na história da Igreja Católica o primeiro Jubileu foi celebrado em
1300 no pontificado de Bonifácio VIII. No espírito das Cruzadas eram determinadas
aos fiéis as peregrinações a lugares Santos com o espírito de penitência e
conversão. A Igreja concedia assim, o perdão dos pecados desde que o fiel
tivesse o intuito de conversão pelas orações e boas obras. Bonifácio desejava
que esse Jubileu fosse celebrado a cada 100 anos. No entanto, outro papa
provavelmente Clemente VI mudou esta data para cada 50 anos para que todos as
gerações pelo menos uma vez na vida celebrasse o Jubileu. Contudo, Paulo VI em
1470 fixou o intervalo de anos para 25, o que seguimos até hoje. Essas,
portanto, são as datas fixadas para os Jubileus Ordinários, podendo, todavia,
conforme promulgação dos papas acontecerem Jubileus Extraordinários, como foi o
Jubileu da Misericórdia.
Neste sentido, a Igreja dá um caráter mais espiritual ao Jubileu judaico.
Por meio, do Jubileu a Igreja, como instrumento de salvação e dispensadora da
graça de Deus concede aos fiéis a Indulgência Plenária. “A indulgência é a
remissão, diante de Deus, da pena temporal devida pelos pecados já perdoados
quanto à culpa, (remissão) que o fiel bem-disposto obtém, em condições
determinadas, pela intervenção da Igreja que, como dispensadora da redenção,
distribui e aplica por sua autoridade o tesouro das satisfações (isto é, dos
méritos) de Cristo e dos Santos”[2].
Algo peculiar acontece em várias cidades do Brasil, por influência
portuguesa, são as Festas dos Padroeiros se tornarem Jubileus, chamados de
Jubileus Perpétuos, que são poucos. Dentre essas cidades está o Santuário de
Nossa Senhora da Conceição do Turvo em Senador Firmino que há 119 anos celebra
o seu Jubileu. O Jubileu iniciou em 1899 e foi promulgado pela Bula
Institucional do Jubileu no ano 1900 pelo Papa Leão XIII, mas antes de 1870
durante estes dias já acontecia às chamadas “Missões” realizadas pelo Padre
Pedro Ayme. Para que se torne um Jubileu Perpétuo é necessário fazer um pedido
a Santa Sé para que conceda aos fiéis a Indulgência Plenária durante as festas
de seus padroeiros ou circunstâncias especiais de grande fluxo de peregrinações
ao Santuário, sem que precise mais renovar o pedido.
Com o aumento do fluxo de romeiros que todos os anos eram atraídos
a Conceição do Turvo, foi concedida esta graça ao Santuário de Nossa Senhora da
Conceição do Turvo que fora revestido com os mesmos favores da Santa Casa de Loreto
(Santuário construído sobre a Casa de Nossa Senhora em Loreto na Itália). Somente
o Romano Pontífice[3]
pode conceder a Indulgência Plenária e quaisquer fiéis as podem lucrar para si
mesmo ou para as almas do purgatório[4]. O
desejo das Indulgências é incutir nos fiéis o desejo de sanar os pecados e
buscar a prática da caridade.
O Jubileu é um tempo oportuno para vivenciarmos mais profundamente
a graça de Deus, é um verdadeiro Kairós. Diria que é um tempo do derramento
da Misericórdia de Deus sobre nós. Para lucrarmos a Indulgência Plenária é
necessário visitar o Santuário de Nossa Senhora da Conceição com o firme
propósito de conversão, receber a Confissão Sacramental e a Eucaristia, e rezar
a Profissão de Fé, a Oração do Pai-Nosso e Ave-Maria na intenção do Santo Padre
o Papa e da Igreja.
Durante os primeiros quinze dias do mês de agosto a cidade de
Senador Firmino, antiga Conceição do Turvo se transforma em um verdadeiro céu,
lugar de preces e de orações que sobem a Deus mais intensamente durante todos esses
dias. Devemos tudo isso ao saudoso Cônego Jacinto Teófilo Trombert, grande
amigo de Deus como bem diz o nome “Teófilo”, fiel servidor do Evangelho e
virtuoso sacerdote, que empreendeu todas as suas forças para a edificação do
belíssimo Santuário dedicado a Nossa Senhora da Conceição e que igualmente
lutou para que nestas terras acontecesse perpetuamente o Santo Jubileu dedicado
a Ela, pelo qual todos os fiéis podem lucrar abundantes graças de Deus.
Encerro com as palavras de Mozart Bicalho compositor do hino da
cidade: “Senador Firmino, aos 15 de agosto, do céu és um posto de meditação.
Corações eleitos, almas piedosas, preces carinhosas, com veneração. E quanta
saudade, do Padre Jacinto, o povo distinto, sente com razão, benfeitor e justo,
anjo de bondade, de nossa cidade o maior brasão”. Nunca percamos de vista esta
saudosa memória. Só consegue desbravar novos mares e oceanos, aquele que nunca
se esquece de onde saiu nunca se esquece de suas raízes. Eis uma riqueza
inestimável que conta em nosso município, um povo de fé, um povo humilde e
trabalhador, um povo festeiro. Aproveitemos este tempo de graça que Deus nos
concede, aproveitemos este Retiro do Povo de Deus que é o Jubileu, tempo de
graça e de conversão.
Wesley Pires dos Santos
1º de Agosto de 2018
119º Jubileu de N. Sr. da Conceição


