quarta-feira, 1 de agosto de 2018

JUBILEU: TEMPO DE GRAÇA E DE CONVERSÃO



Vivenciar um Jubileu é de fato vivenciar um tempo de graça para nossa vida. Como diria o teólogo alemão Jürgen Moltmann: “podemos entender o Jubileu como antecipação do reino de Deus na história.”[1] O Jubileu de Nossa Senhora da Conceição do Turvo em Senador Firmino é um momento oportuno para tal experiência de fé. São poucas as cidades no Brasil que tem o privilégio de celebrar um Jubileu reconhecido pela Santa Sé, por meio do qual a Igreja concede aos seus fiéis a Indulgência Plenária. Eis que Senador Firmino tem esse grande privilégio. Provavelmente é um dos Jubileus MarianoS Perpétuo mais antigo do Estado de Minas Gerais completando neste ano 119 anos de festa. Para isso, vale à pena refletirmos um pouco o que é o Jubileu e como este acontece desde os tempos bíblicos.
Primeiro vale ressaltar que no tempo do Jubileu a graça de Deus atua de maneira mais intensa na vida do seu povo. Por isso, dizemos que o Jubileu é de fato um tempo de graça, um tempo no qual a misericórdia de Deus se derrama com abundância sobre os seus filhos e filhas, é um tempo de remissão, tempo de conversão. Percebemos isso, desde o Antigo Testamento quando encontramos a promulgação da lei do ano do Jubileu em Levítico capítulo 25 v. 8-11: “Contarás sete semanas de anos, sete vezes sete anos, de maneira que os dias das sete semanas de anos serão quarenta e nove anos. Então, no mês sétimo, aos dez do mês, farás soar a trombeta vibrante; no dia da expiação; fareis soar a trombeta em toda a vossa terra. Santificareis o ano qüinquagésimo e proclamareis uma libertação na terra a todos os seus moradores; ano de jubileu: cada um de vós voltará a sua posse e cada um de vós ao seu clã. O qüinquagésimo ano vos será jubileu; não semeareis, nem segareis o que nele nascer de si mesmo, nem nele colhereis as uvas das vinhas não podadas.”
O termo Jubileu tem sua origem na palavra hebraica yobel que tem a ver com o chifre do carneiro que era tocado anunciando este ano. De sete em sete anos era celebrado o ano sabático e no qüinquagésimo ano era celebrado o ano do Jubileu. O termo tem a ver igualmente com o “trazer de volta”. Porque durante o mesmo ano era concedido aos escravos à liberdade, voltando a sua condição originária, mostrando assim, que eram servos apenas do seu Criador, igualmente eram devolvidas as terras a seus donos, e durante este ano, havia também o descanso das terras por causa das colheitas, alem de várias outras prescrições. Contudo, o ano do Jubileu era considerado o ano do perdão das dívidas, o ano da remissão. Conforme o livro do Levítico capítulo 25, neste ano deveria haver várias transformações e libertações, restituindo a igualdade entre os filhos de Deus. O ano do Jubileu é considerado, portanto, como um meio para Deus intervir na história humana.
Na história da Igreja Católica o primeiro Jubileu foi celebrado em 1300 no pontificado de Bonifácio VIII. No espírito das Cruzadas eram determinadas aos fiéis as peregrinações a lugares Santos com o espírito de penitência e conversão. A Igreja concedia assim, o perdão dos pecados desde que o fiel tivesse o intuito de conversão pelas orações e boas obras. Bonifácio desejava que esse Jubileu fosse celebrado a cada 100 anos. No entanto, outro papa provavelmente Clemente VI mudou esta data para cada 50 anos para que todos as gerações pelo menos uma vez na vida celebrasse o Jubileu. Contudo, Paulo VI em 1470 fixou o intervalo de anos para 25, o que seguimos até hoje. Essas, portanto, são as datas fixadas para os Jubileus Ordinários, podendo, todavia, conforme promulgação dos papas acontecerem Jubileus Extraordinários, como foi o Jubileu da Misericórdia.
Neste sentido, a Igreja dá um caráter mais espiritual ao Jubileu judaico. Por meio, do Jubileu a Igreja, como instrumento de salvação e dispensadora da graça de Deus concede aos fiéis a Indulgência Plenária. “A indulgência é a remissão, diante de Deus, da pena temporal devida pelos pecados já perdoados quanto à culpa, (remissão) que o fiel bem-disposto obtém, em condições determinadas, pela intervenção da Igreja que, como dispensadora da redenção, distribui e aplica por sua autoridade o tesouro das satisfações (isto é, dos méritos) de Cristo e dos Santos”[2].
Algo peculiar acontece em várias cidades do Brasil, por influência portuguesa, são as Festas dos Padroeiros se tornarem Jubileus, chamados de Jubileus Perpétuos, que são poucos. Dentre essas cidades está o Santuário de Nossa Senhora da Conceição do Turvo em Senador Firmino que há 119 anos celebra o seu Jubileu. O Jubileu iniciou em 1899 e foi promulgado pela Bula Institucional do Jubileu no ano 1900 pelo Papa Leão XIII, mas antes de 1870 durante estes dias já acontecia às chamadas “Missões” realizadas pelo Padre Pedro Ayme. Para que se torne um Jubileu Perpétuo é necessário fazer um pedido a Santa Sé para que conceda aos fiéis a Indulgência Plenária durante as festas de seus padroeiros ou circunstâncias especiais de grande fluxo de peregrinações ao Santuário, sem que precise mais renovar o pedido.
Com o aumento do fluxo de romeiros que todos os anos eram atraídos a Conceição do Turvo, foi concedida esta graça ao Santuário de Nossa Senhora da Conceição do Turvo que fora revestido com os mesmos favores da Santa Casa de Loreto (Santuário construído sobre a Casa de Nossa Senhora em Loreto na Itália). Somente o Romano Pontífice[3] pode conceder a Indulgência Plenária e quaisquer fiéis as podem lucrar para si mesmo ou para as almas do purgatório[4]. O desejo das Indulgências é incutir nos fiéis o desejo de sanar os pecados e buscar a prática da caridade.  
O Jubileu é um tempo oportuno para vivenciarmos mais profundamente a graça de Deus, é um verdadeiro Kairós. Diria que é um tempo do derramento da Misericórdia de Deus sobre nós. Para lucrarmos a Indulgência Plenária é necessário visitar o Santuário de Nossa Senhora da Conceição com o firme propósito de conversão, receber a Confissão Sacramental e a Eucaristia, e rezar a Profissão de Fé, a Oração do Pai-Nosso e Ave-Maria na intenção do Santo Padre o Papa e da Igreja.
Durante os primeiros quinze dias do mês de agosto a cidade de Senador Firmino, antiga Conceição do Turvo se transforma em um verdadeiro céu, lugar de preces e de orações que sobem a Deus mais intensamente durante todos esses dias. Devemos tudo isso ao saudoso Cônego Jacinto Teófilo Trombert, grande amigo de Deus como bem diz o nome “Teófilo”, fiel servidor do Evangelho e virtuoso sacerdote, que empreendeu todas as suas forças para a edificação do belíssimo Santuário dedicado a Nossa Senhora da Conceição e que igualmente lutou para que nestas terras acontecesse perpetuamente o Santo Jubileu dedicado a Ela, pelo qual todos os fiéis podem lucrar abundantes graças de Deus.
Encerro com as palavras de Mozart Bicalho compositor do hino da cidade: “Senador Firmino, aos 15 de agosto, do céu és um posto de meditação. Corações eleitos, almas piedosas, preces carinhosas, com veneração. E quanta saudade, do Padre Jacinto, o povo distinto, sente com razão, benfeitor e justo, anjo de bondade, de nossa cidade o maior brasão”. Nunca percamos de vista esta saudosa memória. Só consegue desbravar novos mares e oceanos, aquele que nunca se esquece de onde saiu nunca se esquece de suas raízes. Eis uma riqueza inestimável que conta em nosso município, um povo de fé, um povo humilde e trabalhador, um povo festeiro. Aproveitemos este tempo de graça que Deus nos concede, aproveitemos este Retiro do Povo de Deus que é o Jubileu, tempo de graça e de conversão.

Wesley Pires dos Santos
1º de Agosto de 2018
119º Jubileu de N. Sr. da Conceição



 


[1] REIMER, Haroldo; REIMER, Ivoni Richter. Tempos de Graça- O Jubileu e as tradições Jubilares na Bíblia. São Leopoldo: Sinodal: CEBI: Paulus, 1999, p.15
[2] CATECISMO DA IGREJA CATOLICA §1471.
[3] CÓDIGO DE DIREITO CANÔNICO §995.
[4] CÓDIGO DE DIREITO CANÔNICO §994.