Estamos
prestes a iniciar na Igreja um Sínodo com a temática específica sobre a
Juventude, a partir da reflexão: “Os Jovens, a Fé e o Discernimento
Vocacional”. Papa Francisco volta o seu olhar de pai, pastor e amigo,
especialmente a nós jovens e deseja nos escutar para que a partir disso a
Igreja possa traçar metas e pistas que favoreçam o próprio rejuvenescimento
deste mesmo corpo de Cristo através da escuta atenta aos mesmos jovens. Em meio
a este mundo globalizado e conturbado envolto por mudanças rápidas, nos
perguntamos: É possível ser jovem sem deixar de ser de Deus?
A reviravolta científica trouxe
grandes avanços à humanidade, e igualmente trouxe consigo grandes perigos ao
próprio homem, marcado também pela fragilidade e miséria. No entanto, o homem
que se sente agora o centro da humanidade, por sua auto-suficiência, pensa-se
alcançar tudo por meio do cientificismo. A ciência tornou-se parâmetro para
julgar os valores fundamentais do homem e sua história, e até mesmo a própria
existência de Deus. Com isso, este mesmo homem moderno deixa Deus de lado, e
até mesmo declara a “morte de Deus”. Perdendo o seu único fundamento, não
consegue por si só o equilíbrio que irá dar suporte a sua vida e muito menos
encontrar este sustento em outros que estão a sua volta. Deve-se reconhecer em
sua real condição. Somos grandeza pela Razão que nos fez alcançar o progresso
das ciências. Contudo, somos também miséria, fragilidade, somos limitados e
necessitados deste Deus que deixamos de lado.
Tudo muda muito rapidamente
e às vezes nem conseguimos viver e refletir bem sobre o momento e muito menos
conseguimos acompanhar a mudança. Isso acontece tanto, para os adultos, bem
como também para crianças e jovens. Por isso, nossa época é marcada por tantas
incertezas e tantos medos. Nossa juventude é marcada pelas doenças psíquicas
mais agudas, como depressão, síndrome do pânico, causa dessa insegurança e
dificuldade em assumir a vida em si mesma. Daí a necessidade do Discernimento vivenciado
a luz da Fé para as decisões e escolhas sobre a nossa vida, como propõe a
temática do Sínodo da Juventude.
A hiper tecnologia ajuda neste
processo de transformação mundial por meio da globalização que afeta a todos, ricos
e pobres, crianças, jovens e adultos. A felicidade é paradoxal como bem retrata
em sua obra Gilles Lipovetsky. Ao mesmo tempo em que a pessoa se sente feliz e
realizada por ter algo: um smartphone, um tablet, uma televisão, ou demais
tecnologias de última geração. Somos sempre induzidos e manipulados pelos meios
de comunicação, a adquirir mais e mais. Além disso, a indústria farmacêutica
lucra abundantemente, porque os remédios nunca foram tão procurados como agora,
mesmo diante das mínimas dores. O mesmo homem é estimulado a ser um “Super-Homem”
nas mesmas delineações ditas por Lipovetsky. A auto-suficiência toma posse
deste homem egocêntrico, que quer se livrar de toda maneira de reconhecer a sua
real condição e durante toda a sua vida está a fugir de si mesmo. Os jovens que
fazem parte desta geração “hiper conectada” são os mais afetados por estas
situações, marcados por medos e inseguranças do futuro que esta por vir. Por
isso, sentem na “pele” a dificuldade em assumir as responsabilidades da vida,
dificuldade em discernir sobre si e suas escolhas.
A passagem a vida adulta exige acompanhamento dos pais, dos
familiares e das principais instituições, que estão à volta de nossos jovens.
Porque, justamente neste período é tempo também do jovem construir a sua real
identidade. Para isso, é necessário sentir também suporte e abertura por meio
destes que fazem parte de sua existência. Todavia, é preciso que haja sempre
liberdade, para que os jovens na liberdade de sua consciência façam suas
escolhas a partir de um discernimento maduro. Não se sintam de forma alguma
pressionados ou até mesmo forças externas tentem desconstruir tudo o que foi sendo
construído desde a infância. Como vem acontecendo nos últimos tempos, tantos
que deixam seus lares, suas famílias, suas cidades para adentrarem no mundo
universitário e acabam facilmente sendo induzidos ou pressionados por forças
externas. Por não terem edificado bem suas convicções, acabam transformando
seus ideais e valores a mercê de um mundo secularizado e plural onde não há um
fundamento definido. Com isso, são influenciados por novas filosofias e acabam
deixando de lado tudo que fora construído desde a infância.
Diante disso, a Igreja não cansa de ressaltar a importância dos
pais na formação integral dos filhos. Os pais são os primeiros educadores e
catequistas, os primeiros passos na fé são dados juntos aos pais. O primeiro
alimento, a “papinha” é dado pelos pais, depois é fortalecido pelas
instituições como a Igreja, a Escola e Universidades. No diálogo os pais devem fornecer
este suporte aos filhos. Deixando com que as decisões possam ser tomadas pela
liberdade do discernimento, longe de pressões ou mesmo definirem o futuro vocacional
dos filhos.
O grande problema é que muitos pais, não estão assumindo a
responsabilidade sobre a formação dos filhos, tanto na fé, como na educação.
Isso, cada vez mais está sendo transferido para as instituições. Desta forma,
muitos dos nossos jovens acabam não construindo de fato a base fortalecida que
irá ser o sustento em sua existência. Aqui está o grande perigo que incorremos.
Justamente, por isso, acabam se perdendo facilmente em dizeres falaciosos que
tiram todo o suporte de suas vidas sem dar a eles de fato um novo fundamento,
um pilar onde se apoiar. Assim sendo, muitos que não encontram este suporte nas
famílias e demais instituições, acabam buscando na violência, nas drogas, numa
sexualidade desintegrada, no mundo virtual, meios para construir o que não fora
construindo antes, buscando sempre um sentido para vida.
No entanto, se você pensou estar num mundo sem saída, você errou!
Pelo contrário, somos jovens, marcados igualmente por sonhos, por desejos
ardentes de construir um mundo novo a nossa volta, queremos ser protagonistas
deste mundo sonhado por Deus. Muitos por ai, principalmente no meio
universitário declara em sua ignorância que é ultrapassado, ou que é brega
acreditar em Deus e seguir alguma religião. É preciso mostrar a eles com nosso
testemunho de cristãos autênticos que uma coisa não anula a outra. Deus não
anula a Liberdade humana, como muitos pregam por ai. A verdadeira felicidade,
não aquela transitória que está no sexo, nas bebidas, nas festas, nas baladas,
mas a felicidade plena só pode ser encontrada de fato em Deus, fundamento do
ser criado que é o homem.
É possível ser jovem, sem
deixar de ser de Deus. É possível estar no mundo, ir a uma festa, ser
universitário, sem deixar de ser de Deus. É possível sermos protagonistas deste
mundo novo, um mundo com mais fraternidade, cheio de paz e amor, cheio de
partilha, onde ninguém seja excluído, sem violência. É possível sermos Igreja
Jovem, porque a Igreja está de portas abertas para nos escutar, para nos
acolher, porque esta Igreja somos todos nós. É possível fazer desta Igreja um
rosto jovem, quando decididamente dissermos: Eu sou Jovem, Eu sou Igreja
católica, Eu sou Igreja de Cristo. Somos marcados pela Esperança que vem de
Deus e que quer fazer de nós seus discípulos-missionários. Façamos, pois, a
diferença. Mostrando nossa verdadeira força.
Wesley Pires dos Santos
