terça-feira, 2 de outubro de 2018

SER JOVEM, SEM DEIXAR DE SER DE DEUS!


            
            Estamos prestes a iniciar na Igreja um Sínodo com a temática específica sobre a Juventude, a partir da reflexão: “Os Jovens, a Fé e o Discernimento Vocacional”. Papa Francisco volta o seu olhar de pai, pastor e amigo, especialmente a nós jovens e deseja nos escutar para que a partir disso a Igreja possa traçar metas e pistas que favoreçam o próprio rejuvenescimento deste mesmo corpo de Cristo através da escuta atenta aos mesmos jovens. Em meio a este mundo globalizado e conturbado envolto por mudanças rápidas, nos perguntamos: É possível ser jovem sem deixar de ser de Deus?
            A reviravolta científica trouxe grandes avanços à humanidade, e igualmente trouxe consigo grandes perigos ao próprio homem, marcado também pela fragilidade e miséria. No entanto, o homem que se sente agora o centro da humanidade, por sua auto-suficiência, pensa-se alcançar tudo por meio do cientificismo. A ciência tornou-se parâmetro para julgar os valores fundamentais do homem e sua história, e até mesmo a própria existência de Deus. Com isso, este mesmo homem moderno deixa Deus de lado, e até mesmo declara a “morte de Deus”. Perdendo o seu único fundamento, não consegue por si só o equilíbrio que irá dar suporte a sua vida e muito menos encontrar este sustento em outros que estão a sua volta. Deve-se reconhecer em sua real condição. Somos grandeza pela Razão que nos fez alcançar o progresso das ciências. Contudo, somos também miséria, fragilidade, somos limitados e necessitados deste Deus que deixamos de lado.
 Em um curto período de tempo, muita coisa se transforma na vida do ser humana, especialmente em nossa época. Desta forma, podemos dizer que não vivemos em uma época de mudanças, mas uma mudança de época. Conforme exprime o Documento de Aparecida: “Vivemos em uma mudança de época, e seu nível mais profundo é cultural. Dissolve-se a concepção integral do ser humano, sua relação com o mundo e com Deus; ‘aqui está precisamente o grande erro das tendências dominantes do último século... Que exclui Deus de seu horizonte, falsifica o conceito da realidade e só pode terminar em caminhos equivocados e com receitas destrutivas” (DA. 44)
 Tudo muda muito rapidamente e às vezes nem conseguimos viver e refletir bem sobre o momento e muito menos conseguimos acompanhar a mudança. Isso acontece tanto, para os adultos, bem como também para crianças e jovens. Por isso, nossa época é marcada por tantas incertezas e tantos medos. Nossa juventude é marcada pelas doenças psíquicas mais agudas, como depressão, síndrome do pânico, causa dessa insegurança e dificuldade em assumir a vida em si mesma. Daí a necessidade do Discernimento vivenciado a luz da Fé para as decisões e escolhas sobre a nossa vida, como propõe a temática do Sínodo da Juventude.
            A hiper tecnologia ajuda neste processo de transformação mundial por meio da globalização que afeta a todos, ricos e pobres, crianças, jovens e adultos. A felicidade é paradoxal como bem retrata em sua obra Gilles Lipovetsky. Ao mesmo tempo em que a pessoa se sente feliz e realizada por ter algo: um smartphone, um tablet, uma televisão, ou demais tecnologias de última geração. Somos sempre induzidos e manipulados pelos meios de comunicação, a adquirir mais e mais. Além disso, a indústria farmacêutica lucra abundantemente, porque os remédios nunca foram tão procurados como agora, mesmo diante das mínimas dores. O mesmo homem é estimulado a ser um “Super-Homem” nas mesmas delineações ditas por Lipovetsky. A auto-suficiência toma posse deste homem egocêntrico, que quer se livrar de toda maneira de reconhecer a sua real condição e durante toda a sua vida está a fugir de si mesmo. Os jovens que fazem parte desta geração “hiper conectada” são os mais afetados por estas situações, marcados por medos e inseguranças do futuro que esta por vir. Por isso, sentem na “pele” a dificuldade em assumir as responsabilidades da vida, dificuldade em discernir sobre si e suas escolhas. 
A passagem a vida adulta exige acompanhamento dos pais, dos familiares e das principais instituições, que estão à volta de nossos jovens. Porque, justamente neste período é tempo também do jovem construir a sua real identidade. Para isso, é necessário sentir também suporte e abertura por meio destes que fazem parte de sua existência. Todavia, é preciso que haja sempre liberdade, para que os jovens na liberdade de sua consciência façam suas escolhas a partir de um discernimento maduro. Não se sintam de forma alguma pressionados ou até mesmo forças externas tentem desconstruir tudo o que foi sendo construído desde a infância. Como vem acontecendo nos últimos tempos, tantos que deixam seus lares, suas famílias, suas cidades para adentrarem no mundo universitário e acabam facilmente sendo induzidos ou pressionados por forças externas. Por não terem edificado bem suas convicções, acabam transformando seus ideais e valores a mercê de um mundo secularizado e plural onde não há um fundamento definido. Com isso, são influenciados por novas filosofias e acabam deixando de lado tudo que fora construído desde a infância.
Diante disso, a Igreja não cansa de ressaltar a importância dos pais na formação integral dos filhos. Os pais são os primeiros educadores e catequistas, os primeiros passos na fé são dados juntos aos pais. O primeiro alimento, a “papinha” é dado pelos pais, depois é fortalecido pelas instituições como a Igreja, a Escola e Universidades. No diálogo os pais devem fornecer este suporte aos filhos. Deixando com que as decisões possam ser tomadas pela liberdade do discernimento, longe de pressões ou mesmo definirem o futuro vocacional dos filhos.
O grande problema é que muitos pais, não estão assumindo a responsabilidade sobre a formação dos filhos, tanto na fé, como na educação. Isso, cada vez mais está sendo transferido para as instituições. Desta forma, muitos dos nossos jovens acabam não construindo de fato a base fortalecida que irá ser o sustento em sua existência. Aqui está o grande perigo que incorremos. Justamente, por isso, acabam se perdendo facilmente em dizeres falaciosos que tiram todo o suporte de suas vidas sem dar a eles de fato um novo fundamento, um pilar onde se apoiar. Assim sendo, muitos que não encontram este suporte nas famílias e demais instituições, acabam buscando na violência, nas drogas, numa sexualidade desintegrada, no mundo virtual, meios para construir o que não fora construindo antes, buscando sempre um sentido para vida.
No entanto, se você pensou estar num mundo sem saída, você errou! Pelo contrário, somos jovens, marcados igualmente por sonhos, por desejos ardentes de construir um mundo novo a nossa volta, queremos ser protagonistas deste mundo sonhado por Deus. Muitos por ai, principalmente no meio universitário declara em sua ignorância que é ultrapassado, ou que é brega acreditar em Deus e seguir alguma religião. É preciso mostrar a eles com nosso testemunho de cristãos autênticos que uma coisa não anula a outra. Deus não anula a Liberdade humana, como muitos pregam por ai. A verdadeira felicidade, não aquela transitória que está no sexo, nas bebidas, nas festas, nas baladas, mas a felicidade plena só pode ser encontrada de fato em Deus, fundamento do ser criado que é o homem.
 É possível ser jovem, sem deixar de ser de Deus. É possível estar no mundo, ir a uma festa, ser universitário, sem deixar de ser de Deus. É possível sermos protagonistas deste mundo novo, um mundo com mais fraternidade, cheio de paz e amor, cheio de partilha, onde ninguém seja excluído, sem violência. É possível sermos Igreja Jovem, porque a Igreja está de portas abertas para nos escutar, para nos acolher, porque esta Igreja somos todos nós. É possível fazer desta Igreja um rosto jovem, quando decididamente dissermos: Eu sou Jovem, Eu sou Igreja católica, Eu sou Igreja de Cristo. Somos marcados pela Esperança que vem de Deus e que quer fazer de nós seus discípulos-missionários. Façamos, pois, a diferença. Mostrando nossa verdadeira força.

Wesley Pires dos Santos