Basta afastarmo-nos um pouquinho do
corre-corre do mundo e então conseguiremos nos deparar conosco mesmo e
pensaremos qual o sentido que me impulsiona a viver. A Quaresma é um tempo
propício em que a Igreja nos convida a mergulharmos no mais íntimo do nosso ser
para nos reconhecermos não mais santos ou mais perfeitos do que os outros, mas
reconhecermo-nos humanos. Já parou para pensar quantas e quantas vezes você
deixou de viver de fato sua humanidade? Quantas vezes o “outro” tantas vezes
nos condiciona e nos ajuda a fugir de nós mesmos? Quanto tempo você tira para
pensar em você, em seus desejos, em suas necessidades? Quase nada não é
verdade. Justamente por isso, acabamos por nos rebaixar, por deixar-se guiar
por nossas mazelas e por nossos instintos ou até mesmos nos extasiamos com
calmantes, drogas, uma sexualidade desregrada. Por quê? Porque queremos fugir
de nós mesmos, fugir de nossa humanidade, para não reconhecer que nós não somos
tudo, mas que somos também limitados. O mundo nos vê como robozinhos, máquinas
para consumir ou para produzir. Mas não, nós somos humanos, somos sentimentais,
e também racionais, podemos pensar em nossa condição.
Como
diria o filósofo francês Blaise Pascal: “Somos grandeza, mas também miséria”. Enquanto
não olharmos para dentro de nós mesmos, para buscar o Totalmente Outro (Deus)
que habita o mais profundo do nosso ser, passaremos a vida toda relutando com a
gente mesmo e fugiremos de reconhecer quem verdadeiramente somos. Ficaremos a
vida toda buscando apenas coisas fúteis para saciar o profundo vazio que há
dentro de nós e não nos preencheremos de fato com este Totalmente Outro, único
capaz de preencher o nosso vazio existencial. Porque somente o Cristo é o Homem
Pleno, que viveu plenamente e perfeitamente sua humanidade, não fugiu de reconhecer
o seu verdadeiro ser. Pelo contrário, desde o início de sua Missão conhecia sua
real identidade de Filho de Deus. Deixemo-nos guiar por Ele.
Há
alguns anos após a festa do Carnaval tenho pensado muito e me questionado mais
ainda. O que realmente estamos festejando nesta festa? Será a vida? Mas que
vida é esta que se festeja embriagando o máximo que se pode, chegando ao ponto
de não se lembrar de nada que viveu na noite passada do Carnaval, não se lembrando
nem mesmo o que bebeu? Que vida é esta que está sendo festejada, após usar
vários tipos de drogas e até estado em êxtase não se lembrado nem onde está,
nem que é? Que vida é esta que está sendo festejada, que após ficar com várias
pessoas e até mesmo transar com várias, não se sentiu amado (a) por nenhuma e
nem mesmo transmitiu amor, pelo contrário só se usou ou foi usado como objeto
de satisfação de prazer? Que vida é esta que está sendo festejada, que bebe e
come a vontade, depois sai dançando e rebolando e se expondo ao ridículo quase
nu, despido às vezes de sua real dignidade atrás de um carro com músicas que te
chama de “cachorra” e de tantos nomes que rebaixam a sua dignidade de ser
humano? Que vida é esta que se festeja, na qual se faz totalmente uma apologia
ao sexo, as drogas? Que vida é esta que se festeja, quando você pensa estar
vivendo a Liberdade, mas é o outro, imbuído no sistema que está te controlando?
Já faz
algum tempo que perdemos nosso verdadeiro Carnaval. Não se vive da verdadeira
alegria. Quantas brigas por causa da embriaguez. Infelizmente muita coisa ao
invés de edificar nossa juventude, está rebaixando-a ainda mais em seu real
valor. Aumenta ainda mais os suicídios, as síndromes do pânico, a depressão.
Qual o sentido você tem abraçado para sua vida? Adélia Padro vai dizer que o que
confere dignidade a vida é o que dá sentido a ela. Perdemos o sentido da vida
porque muitas vezes a esvaziamos da realidade e buscamos algo fora de nós que
pode estar mais dentro do que fora, para preencher nosso vazio. Fugimos para
nao enxergar a realidade que nos cerca, fugimos da reflexão e da meditação.
Tudo isso, para não pensarmos em nossa real condição e nossas faltas cometidas.
Quando paramos para pensar temos a oportunidade de experimentar o perdão. Temos
que inverter as nossas buscas por preencher nossos vazios. Nós somos sujeitos
de nós mesmos e de nossa caminhada e muitas vezes buscamos nos outros ou nas
coisas, repostas que se encontram dentro de nós mesmo.
O
verdadeiro sentido se faz quando me encontro com minha humanidade que é tão
imbuída da presença de Deus que me criou. Aí sim nos colocaremos na condição de
criaturas e totalmente dependentes deste verdadeiro amor que se traduz como
Ágape, único capaz de me amar de fato e de me ajudar a viver minha humanidade,
fazendo com que eu também viva este amor na Caridade aos irmãos e irmãs. Quanto
mais humanos formos, mais divinizados seremos! A Quaresma é este tempo de graça
que Deus nos concede para pensarmos em nossa humanidade. Para adentrarmos o
Deserto da vida, a nossa intimidade e para purificá-la, preenchendo-a do único
e verdadeiro Amor. Ao terminar os dias de Carnaval, após muitos viverem
exageradamente os excessos da “carne”, porque estão em busca por preencher este
vazio. Eis que a Igreja como Mãe nos convida a adentrarmos o Deserto da vida
com Cristo e a enfrentarmos as tentações que nos afligem não para deixarmo-nos
vencer por elas, mas para que guiados pelo Espírito Santo possamos vencê-las,
não só na Quaresma, mas durante toda nossa vida. Vivemos bem este tempo de
Graça! Lembre sempre desta frase: “Quando a vida se fez noite, Ele se fez
estrela brilhante. Quando os medos atormentaram, Ele se fez cessar as ondas.
Quando tudo pareceu perdido, Ele apontou o caminho. Ele ensinou a caminhar”.
Wesley Pires dos Santos
2º Ano de Teologia.
-Escrevi esta reflexão após o Retiro ESPIRITUAL com o tema: "A Espiritualidade da FALTA". Deixemo-nos guiar por Deus nesta caminhada Quaresmal alcançando o mais profundo do Deserto da nossa existência. Que caminhemos sempre orientados por Ele que é Deus e Homem verdadeiro-