domingo, 10 de março de 2019

QUE VIDA VALE A PENA SER VIVIDA?



      Basta afastarmo-nos um pouquinho do corre-corre do mundo e então conseguiremos nos deparar conosco mesmo e pensaremos qual o sentido que me impulsiona a viver. A Quaresma é um tempo propício em que a Igreja nos convida a mergulharmos no mais íntimo do nosso ser para nos reconhecermos não mais santos ou mais perfeitos do que os outros, mas reconhecermo-nos humanos. Já parou para pensar quantas e quantas vezes você deixou de viver de fato sua humanidade? Quantas vezes o “outro” tantas vezes nos condiciona e nos ajuda a fugir de nós mesmos? Quanto tempo você tira para pensar em você, em seus desejos, em suas necessidades? Quase nada não é verdade. Justamente por isso, acabamos por nos rebaixar, por deixar-se guiar por nossas mazelas e por nossos instintos ou até mesmos nos extasiamos com calmantes, drogas, uma sexualidade desregrada. Por quê? Porque queremos fugir de nós mesmos, fugir de nossa humanidade, para não reconhecer que nós não somos tudo, mas que somos também limitados. O mundo nos vê como robozinhos, máquinas para consumir ou para produzir. Mas não, nós somos humanos, somos sentimentais, e também racionais, podemos pensar em nossa condição.
Como diria o filósofo francês Blaise Pascal: “Somos grandeza, mas também miséria”. Enquanto não olharmos para dentro de nós mesmos, para buscar o Totalmente Outro (Deus) que habita o mais profundo do nosso ser, passaremos a vida toda relutando com a gente mesmo e fugiremos de reconhecer quem verdadeiramente somos. Ficaremos a vida toda buscando apenas coisas fúteis para saciar o profundo vazio que há dentro de nós e não nos preencheremos de fato com este Totalmente Outro, único capaz de preencher o nosso vazio existencial. Porque somente o Cristo é o Homem Pleno, que viveu plenamente e perfeitamente sua humanidade, não fugiu de reconhecer o seu verdadeiro ser. Pelo contrário, desde o início de sua Missão conhecia sua real identidade de Filho de Deus. Deixemo-nos guiar por Ele.
Há alguns anos após a festa do Carnaval tenho pensado muito e me questionado mais ainda. O que realmente estamos festejando nesta festa? Será a vida? Mas que vida é esta que se festeja embriagando o máximo que se pode, chegando ao ponto de não se lembrar de nada que viveu na noite passada do Carnaval, não se lembrando nem mesmo o que bebeu? Que vida é esta que está sendo festejada, após usar vários tipos de drogas e até estado em êxtase não se lembrado nem onde está, nem que é? Que vida é esta que está sendo festejada, que após ficar com várias pessoas e até mesmo transar com várias, não se sentiu amado (a) por nenhuma e nem mesmo transmitiu amor, pelo contrário só se usou ou foi usado como objeto de satisfação de prazer? Que vida é esta que está sendo festejada, que bebe e come a vontade, depois sai dançando e rebolando e se expondo ao ridículo quase nu, despido às vezes de sua real dignidade atrás de um carro com músicas que te chama de “cachorra” e de tantos nomes que rebaixam a sua dignidade de ser humano? Que vida é esta que se festeja, na qual se faz totalmente uma apologia ao sexo, as drogas? Que vida é esta que se festeja, quando você pensa estar vivendo a Liberdade, mas é o outro, imbuído no sistema que está te controlando?
Já faz algum tempo que perdemos nosso verdadeiro Carnaval. Não se vive da verdadeira alegria. Quantas brigas por causa da embriaguez. Infelizmente muita coisa ao invés de edificar nossa juventude, está rebaixando-a ainda mais em seu real valor. Aumenta ainda mais os suicídios, as síndromes do pânico, a depressão. Qual o sentido você tem abraçado para sua vida? Adélia Padro vai dizer que o que confere dignidade a vida é o que dá sentido a ela. Perdemos o sentido da vida porque muitas vezes a esvaziamos da realidade e buscamos algo fora de nós que pode estar mais dentro do que fora, para preencher nosso vazio. Fugimos para nao enxergar a realidade que nos cerca, fugimos da reflexão e da meditação. Tudo isso, para não pensarmos em nossa real condição e nossas faltas cometidas. Quando paramos para pensar temos a oportunidade de experimentar o perdão. Temos que inverter as nossas buscas por preencher nossos vazios. Nós somos sujeitos de nós mesmos e de nossa caminhada e muitas vezes buscamos nos outros ou nas coisas, repostas que se encontram dentro de nós mesmo.
O verdadeiro sentido se faz quando me encontro com minha humanidade que é tão imbuída da presença de Deus que me criou. Aí sim nos colocaremos na condição de criaturas e totalmente dependentes deste verdadeiro amor que se traduz como Ágape, único capaz de me amar de fato e de me ajudar a viver minha humanidade, fazendo com que eu também viva este amor na Caridade aos irmãos e irmãs. Quanto mais humanos formos, mais divinizados seremos! A Quaresma é este tempo de graça que Deus nos concede para pensarmos em nossa humanidade. Para adentrarmos o Deserto da vida, a nossa intimidade e para purificá-la, preenchendo-a do único e verdadeiro Amor. Ao terminar os dias de Carnaval, após muitos viverem exageradamente os excessos da “carne”, porque estão em busca por preencher este vazio. Eis que a Igreja como Mãe nos convida a adentrarmos o Deserto da vida com Cristo e a enfrentarmos as tentações que nos afligem não para deixarmo-nos vencer por elas, mas para que guiados pelo Espírito Santo possamos vencê-las, não só na Quaresma, mas durante toda nossa vida. Vivemos bem este tempo de Graça! Lembre sempre desta frase: “Quando a vida se fez noite, Ele se fez estrela brilhante. Quando os medos atormentaram, Ele se fez cessar as ondas. Quando tudo pareceu perdido, Ele apontou o caminho. Ele ensinou a caminhar”.

Wesley Pires dos Santos
2º Ano de Teologia.

-Escrevi esta reflexão após o Retiro ESPIRITUAL com o tema: "A Espiritualidade da FALTA". Deixemo-nos guiar por Deus nesta caminhada Quaresmal alcançando o mais profundo do Deserto da nossa existência. Que caminhemos sempre orientados por Ele que é Deus e Homem verdadeiro-