sexta-feira, 31 de maio de 2019

O GIGANTESCO SEGREDO DA ALEGRIA


            


             A vida religiosa contemplativa, presente nos Mosteiros, é, de fato, o sustento do mundo e da Igreja. Certa vez um determinado autor disse: “Uma pequena comunidade de monjas anciãs, que, humanamente falando, está no fim, morrendo, consola mais o mundo do que uma grande comunidade florescente que pensa que é preciosa e fecunda pelo que faz e expressa, e por como faz e expressa o que faz”. Partindo dessa premissa, vamos comparar o mundo corrido e acelerado de hoje, com a vida religiosa contemplativa.

            Neste contexto secularizado, grandes preocupações pelo desempenho rápido e produtivo, bem como uma vida profissional eficaz, têm ganhado destaque. Por conseguinte, cada vez mais, se tem aumentado as doenças psicológicas como a depressão, a síndrome do pânico, síndrome de burnout. A meditação, o silêncio, a leitura já não têm espaço para o ser humano “evoluído”, da produção, da cultura tecnocrática e pragmática. Isso tem acontecido por que as pessoas não se dão conta de si, da sua real identidade, e, mais ainda, não estão tendo tempo para os seus e nem para si mesmas. Com isso, pensa-se mais no lucro, no profissionalismo, no desempenho eficaz e esquece-se do cuidado consigo e com os outros. 
            O mundo evolui rapidamente. Novos meios e objetos tecnológicos estão substituindo o trabalho humano, não havendo necessidade mais de mão-de-obra em tantos serviços.  Tem-se, no entanto, uma grande ilusão de que esses meios são os responsáveis por levar o homem à felicidade. Há uma felicidade extremamente paradoxal, no qual, para ser feliz, segundo os parâmetros mundanos, deve-se consumir cada vez mais e mais. Todavia, o consumo não colabora na completude desse coração tão necessitado de sentido para sua vida.
            Os Shoppings se tornaram ironicamente “Casas de Retiro” no mundo capitalista, desejando sugar cada vez mais o ser humano de si mesmo. Ademais, são um lugares selecionadores, nos quais só entra quem tem condições para comprar. Ali, pessoas conseguem passar o dia todo passeando pelas lojas, comprando, indo ao cinema, alimentando-se, uma verdadeira cidade comercial. Não se veem relógios, para não induzir a pensar no tempo cronológico e nem pensarem no mundo que continua a girar fora. Uma verdadeira fuga da realidade. Além disso, mostra-se nesses lugares o ideal da felicidade: qual a melhor roupa que se deve comprar, qual o alimento, qual o ideal de aparelhos, e por aí vai. O corre-corre continua, as preocupações e os problemas permanecem existentes, estão sendo camuflados, jogados para “debaixo do tapete”.
            Ao contrário disso, no meio de uma grande metrópole, na capital mineira, em meio ao barulho dos carros e das pessoas, eis que me deparei com um lugar diferente, do qual desejo dar testemunho. Lugar do Silêncio, da Meditação, da Contemplação e do Trabalho. Em plena modernidade, mais de 40 mulheres vivem em uma comunidade monástica, no Mosteiro Nossa Senhora das Graças, conforme a Regra de São Bento, escrita no século VI. De fato, um verdadeiro testemunho de vida para todos nós que vivemos nesta correria diária. Essas religiosas, que a partir do encontro com o Ressuscitado, foram capazes de perceber o que é o essencial para vida. Perceberam que a verdadeira felicidade não são as compras, o poder, as honras, as riquezas, o prestígio, o muito fazer, mas é o viver na simplicidade, no despojamento de si. Gastam seu tempo rezando nas diversas horas o Ofício Divino santificando cada momento do dia e intercedendo pelo mundo, também em boas leituras, em meditações espirituais, e, também, no trabalho diário. Percebem os sinais de Deus nas pequenas coisas. Uma vida vivida na humildade, no reconhecer de que não somos capazes de tudo, e, muito menos, que devemos ser perfeitos para fazer tudo com eficiência, acumulando riquezas.
           Vale a pena ressaltar, que o monge não é aquele que foge do mundo e nem pode ser, pois como bem disse Thomas Merton, “o monge tem de permanecer real, e só o poderá ser mantendo-se em contato com a realidade”. Por isso, diante das incongruências do mundo são pessoas que conseguiram encontrar-se com a verdadeira felicidade e possuem a verdadeira liberdade.
            Percebi no sorriso de cada irmã, um reflexo de pessoas que, de fato, encontraram a alegria, a razão de ser e estar neste mundo, mesmo diante dos desafios. Pessoas que reconheceram o potencial único que se tem dentro de cada um. Nós que estamos aqui do lado de fora dos muros do Mosteiro, temos também um gigantesco segredo da alegria dentro de nós, como estas mulheres de Deus. Por isso, não podemos deixar com que o mundanismo nos roube o essencial de se viver, nos roube a nós mesmos. Precisamos parar um pouco, fazer silêncio, nos ouvir, fazer uma boa leitura que nos engrandeça, uma meditação e até mesmo relaxar de vez em quando para que não percamos o sentido de viver e muito menos o essencial. Já dizia Saint Exupéry na obra “O Pequeno Príncipe” que “o essencial é invisível aos olhos, mas visível ao coração”. De tal maneira, se não ficarmos atentos, não adentrarmos o nosso ser mais profundo, nunca encontraremos o essencial para se viver, mas, ao contrário, buscaremos cada vez mais o que é supérfluo.
            O grande diferencial dessas irmãs pode ser observado por meio da vida de oração e da liberdade interior que buscam viver cotidianamente. Por isso, é um grande escândalo para o mundo. Descobriram o essencial da vida. Por isso, termino exortando: “não temas o essencial!” (Dom José Tolentino de Mendonça), pois, dentro de cada um há o gigantesco segredo da alegria.




Wesley Pires dos Santos
Seminarista da Arquidiocese de Mariana


Mosteiro Nossa Senhora das Graças - Belo Horizonte - MG.

Monjas Beneditinas


segunda-feira, 13 de maio de 2019

NOSSA SENHORA, MULHER DA ALEGRIA!


Quem és tu ó Maria? És tu ó Mãe que celebramos neste mês de maio, mês de alegria, de lindos cantos, Mês de Maria. Maria, mulher singular, mulher do povo, pobre como aqueles que se esvaziam de si mesmos para se encherem e enriquecerem unicamente do próprio Deus. Mãe do povo, Mãe de um mundo novo, ó Mãe de Jesus. Mãe da Igreja, mãe da Esperança e Senhora da Luz. Maria de vários títulos, hoje a congratulamos como a Mãe da Alegria, aquela que com seu Filho também se irradia transmitindo ao mundo a alegria de uma vida nova que ressurge na cruz. A alegria nasce na pequenina Nazaré quando o Anjo a saúda “Ave, ó cheia de graça” (Lc 1,28). És tu ó Maria, a plena de alegria. Aquela que nesta pequenina vila, recebeu de Deus uma grande Missão. Foste escolhida entre todas deste mundo, para ser instrumento da obra da salvação.
            Quem és tu ó Maria? Mulher de garra, conhecedora dos nossos desafios, mulher trabalhadora, sempre lutando em meio às dificuldades, no silêncio diário, nos pequenos trabalhos foste de Deus a grande aprendiz. Mulher do lar e educadora da fé dai-nos a graça de, nesta escola, nos matricularmos constantemente. Mesmo diante dos desafios e dos temores, a alegria esteve sempre presente em ti, encorajando-a a sair de si para servir, assim como fez partindo para a casa de sua prima Santa Izabel. Mulher do serviço, teu Sim transformou nosso mundo e nossa fé.
            Quem és tu ó Maria? És a Mãe da Alegria, que nunca perdeu a esperança nas promessas do Deus de Israel. Cumprindo até o fim a Missão de Mãe. Acompanhou seu Filho Jesus desde o nascimento até a paixão e morte. Hoje, O acompanha na Ressurreição alcançando com Ele sua Assunção. No céu continua a interceder por todos nós seus Filhos entregues a ti no alto da Cruz. Mulher da Esperança que continua a mostrar ao mundo sofrido e desanimado que a resposta para suas crises é unicamente o seu Filho amado. Repete constantemente a nós: “Fazei tudo o que Ele vos disser!” (Jo 2,5). Assim, nos mostra que nossa vida é eterna e que aqui estamos como peregrinos, pois nossa meta é o céu.
            Eis-nos diante de ti, ó Mãe da Alegria, neste mês de louvores em que a ti ofertamos lindos gestos de amores por meio de tantas flores. Queremos como discípulos sermos também, neste mundo, homens da alegria e da esperança. Queremos levar ao mundo o teu Filho Jesus. Sabemos que para alcançarmos tão grande felicidade obtida pela Ressurreição precisamos igualmente passar pelo caminho da Paixão. Neste caminho contemplamos igualmente as diversas alegrias que a Senhora tivestes nesta vida. Alegria que somente aqueles que se entregam ao projeto de Deus podem alcançar. “Onde há um consagrado não pode haver tristeza”. Aquele que diz Sim a Deus, não deixa em sua vida espaço para lamúrias, desânimos ou tristezas, mas deixam Deus preencher sua vida com a “água viva” da verdadeira alegria e, igualmente, a distribui aos outros para que também experimentem tão sublime graça.
            Dai-nos a graça, ó Mãe, de sermos homens novos, instrumentos da Alegria para um mundo novo, para um mundo tão marcado pela morte, pela violência, pela dor, pela pobreza. Sejamos nós sinais do Ressuscitado no mundo. Que nossa entrega seja autêntica para que Nosso Senhor seja, de fato, o centro e a razão de ser da vida de nossas comunidades cristãs.
            Maria do Sim, Senhora da Alegria, Maria do povo, Senhora do mundo novo, Rosa mais bela e esplendorosa que pode haver. Mãe das vocações cuidai de todos nós vossos filhos. Aceitais estas flores que a ti ofertamos com louvores. Amém!

Wesley Pires dos Santos
Seminarista da Arquidiocese de Mariana


Mês de Maio - SENADOR FIRMINO - MG.