Em pleno mês de Maio de
2020 esperava-se que um Seminarista estive no Seminário estudando e se
preparando, vivendo as diversas dimensões formativas para melhor discernir sua
vocação, rumo a entrega total de sua vida para o serviço do Senhor, como
presbítero. No entanto, não está sendo desta forma. Este ano e este tempo está sendo um
tanto atípico. Programamos todo o ano de 2020, como de costume, nossas
atividades acadêmicas, comunitárias, espirituais, pastorais (quantas reuniões,
formações e celebrações com o povo de Deus na paróquia de São Pedro em Ponte
Nova), reuniões, momentos festivos. Contudo, dessa vez o Senhor quis que nós,
seus vocacionados, voltássemos a nossa humilde Nazaré, ao nosso lar, junto aos
nossos pais, onde Ele mesmo me chamou, para que aqui, em minha casa, pudesse
fazer uma experiência diferente de discernimento, que por sinal tem sido muito
proveitosa, um verdadeiro retiro. Continuamos nosso caminho de Configuração.
Diante de tanto
sofrimento vivido pela humanidade vítima do Covid-19. Eis que a Igreja com
muita prudência e discernimento tem sido voz profética para o mundo de que Deus
continua a cuidar de todos. Para isso, desde o primeiro momento ouviu as
autoridades, os especialistas na área da saúde crendo que eles também são
instrumentos de Deus para resguardar o mundo deste inimigo invisível (fechou as
Igrejas, os Seminários...). Tudo em nossos planos de uma hora para outra se
transformou. Nossos formadores viram por bem nos dispensar para que cada um
pudesse viver este momento com seus familiares, uma forma também de nos
proteger e para que também nós pudéssemos cuidar dos nossos. Foi o dia 18 de
março quando retornei à minha cidade. A partir de então muita coisa tem mudado.
Apesar de tanta notícia
triste, de perdas e de sofrimentos. Somos convidados a nos resguardar neste
momento e a nos protegermos para que não nos contaminemos e nem contaminemos os
outros. A quarentena que eu vivo tem sido uma experiência profícua da graça de
Deus. Ao estar com minha família, continuo muito próximo a família Seminário, (os
formadores e o irmãos seminaristas constantemente tem-se reunido virtualmente,
mostrando também esta proximidade, mesmo que distantes). Tenho crescido como
cristão e aprendido a reconhecer o que de fato é essencial na vida. Para isso,
a regra de vida de São Bento, vivida por muitos mosteiros, muito nos ensina a
melhor ressignificar este tempo. Uma vida de silêncio, de oração, de estudo e
trabalho; de simplicidade, aprendendo por meio da contemplação a degustar
muitas coisas oferecidas por Deus no silêncio e na beleza da natureza. Não só
para este tempo, mas para a vida, é necessário criarmos uma certa rotina de
oração, estudo, alimentação, exercício físico e uma boa leitura. Tudo isso, nos
ajuda a ter uma vida mais integrada, inclusive psiquicamente.
Ao passar este tempo de pandemia
permita-nos Deus que redescubramos o essencial da vida. Redescubramos a verdadeira
razão de viver: o amor. Como cristãos devemos ser homens e mulheres da esperança.
Assim, teremos a plena certeza de que tudo está nas mãos de Deus, é Ele quem
nos conduz. Por isso, este tempo também é um tempo formativo, não apenas para
nós que estamos no processo de formação no Seminário, mas para toda humanidade.
Deus só permite um mal, a fim de que, dele possamos tirar um bem maior.
A cada manhã
ao fazer minha caminhada e meu momento de oração sempre olho para o Céu. O
olhar para Céu, nos dá certeza da imensidão do amor de Deus, e gera esperança.
Neste tempo de pandemia a imagem da névoa fria e do sol nascente todas a manhãs
tem me ajudado a crescer na fé, como grande sinal de Deus para todos nós. Por
mais que esteja congelando, por mais que pareça que vai demorar passar. Eis que
começa a nascer o Sol esplendoroso, a aquecer a terra e a dissipar a névoa. Aqui está nossa fé. Fé não é apenas acreditar, é confiar, e
muito mais, é participar existencialmente na vida de Cristo, e nisso temos a
oportunidade de crescer a cada dia. O Sol que ilumina nossas manhãs e dissipa
as trevas e o frio, é sinal da presença de Deus que cuida da humanidade, mesmo
que o homem se afaste de sua presença, e pelo livre-arbítrio aceita o mal.
Mesmo assim, Ele deseja iluminar e aquecer a todos. Em tempos de provação mais
do que nunca Deus caminha com seu povo, é presença. É presença por meio de cada
gesto de amor, de cuidado e de solidariedade. Sabemos que tudo está nas mãos de
Deus. Nesta certeza, podemos seguir o que diz São Bento em sua Regra: “Nada
antepor ao Amor de Cristo” (RB 4,21). Crendo que é Ele que sempre nos guia e
caminha conosco, e nos fala por meio do Silêncio. BASTA CONFIAR! Assim tenho vivido esse tempo!
Wesley Pires dos Santos


