terça-feira, 4 de março de 2025

QUARESMA- TEMPO DE TRAVESSIA, PEREGRINOS DE ESPERANÇA!

 


Com a imposição das cinzas sobre a nossa cabeça, ouvindo o chamado da Igreja: “Convertei-vos e crede no Evangelho”, “Lembra-te que és pó e ao pó voltarás”, iniciamos o tempo Quaresmal. Um tempo de travessia rumo à Páscoa do Senhor, rumo à vida nova, tempo de conversão. O número 40 traz consigo toda uma simbologia, fazemos memória do povo de Deus que caminhou 40 anos pelo deserto rumo a Terra prometida, nos recordamos dos 40 dias que Nosso Senhor passou pelo deserto vencendo as tentações para assumir a sua grande Missão. O número 40 é portanto, um tempo de preparação, de maturação, tempo de conversão e de mudança de vida.

Somos chamados pelo profeta Joel a voltar para o Senhor, a rasgar o coração e não as vestes. Nesse tempo forte reconhecemos que todas as práticas exteriores devem tocar o interior. É preciso de fato viver uma fé autêntica, não uma religiosidade da superficialidade. O Céu se rasga, graças são derramadas em nossos corações. “Eis o tempo favorável, eis o dia da conversão". Por isso é tempo de travessia, e queremos embarcar nessa viagem com Jesus, nosso único mestre.

Para essa viagem Jesus nos sugere no Evangelho três práticas que nos ajudam a vencer as ondas bravias do mundo e do nosso interior, lugar onde bate um coração de pedra e não de carne. A primeira é a oração, é preciso intimidade com Deus, sem intimidade não tem fé, é preciso crescer na vida de oração, na leitura orante da palavra de Deus, é preciso se conectar com o Céu. Temos esquecido das realidades eternas, temos esquecido do Céu. A oração é a força para vencermos o Demônio, as tentações, que nos levam ao egoísmo, ao orgulho, às divisões. A segunda é o jejum, diz respeito ao relacionamento consigo mesmo, é a disciplina que nos leva a disponibilidade e a solidariedade. O jejum ajuda a cortar pela raiz os nosso vícios, para não perdemos de vista a meta. A terceira é a esmola – caridade, chamados a sair de nós mesmos para irmos ao encontro dos irmãos, especialmente os mais sofredores, sabendo que a preparação para a Páscoa se faz “Campanha da Fraternidade”, o nosso pecado incide na comunidade, e precisamos juntos estender as mãos para os irmãos e para a nossa Casa Comum.

Neste ano de 2025 somos convidados pela Igreja do Brasil a vivermos a Ecologia Integral, somos guardiões e cuidadores de toda a criação. E como ato concreto, em nossa cidade de Ouro Preto, Patrimônio Mundial da Humanidade, queremos dizer NÃO à Mineração na Comunidade do Botafogo, uma ameaça ao patrimônio histórico, cultural e natural de Ouro Preto. Algo que ameaça não só o entorno de onde estão querendo explorar, mas afeta toda a nossa cidade. Ouçamos "o grito da criação que geme como em dores de parto".

É preciso nesse tempo quaresmal abrir espaço para Deus e para os irmãos, somos chamados a viver o amor, ancorando nossa vida na Esperança, pois ela não nos decepciona jamais. A religião não é mágica, por isso, não basta preparar-se com um Rito Penitencial, é necessário que todo homem se abra a graça, e do mais profundo do seu ser se volte para Deus. Vivamos bem este tempo favorável, tempo de penitência, jejum e oração. Lembremos do que diz São Leão Magno: “Nós vos prescrevemos o jejum, lembrando-vos não só a abstinência, mas também as obras de misericórdia. Deste modo, o que tiverdes economizando nos gastos normais se transforme em alimento para os pobres”. Na travessia que faremos rumo à Páscoa é preciso reconhecer que a nossa fé é feita de Cruz, e a Cruz tem duas hastes, uma vertical que faz-nos olhar para o Céu e amar mais a Deus e outra horizontal que faz-nos olhar para a Casa Comum e amar mais os irmãos e o Planeta a nossa volta, vivendo a Ecologia Integral, porque “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31). Lembre-se, a Liturgia é a celebração da vida.

 

Pe Wesley Pires dos Santos

Pároco da Paróquia Cristo Rei

Ouro Preto MG.

 


sábado, 25 de janeiro de 2025

JESUS, PALAVRA ETERNA DO PAI

 

III DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO C



DOMINGO DA PALAVRA DE DEUS

LEITURA I – Neemias 8,2-4a.5-6.8-10

Salmo 18 B (19)

LEITURA II – 1 Coríntios 12,12-30

EVANGELHO – Lucas 1,1-4; 4,14-21

 

            A liturgia deste domingo traz a Palavra de Deus como centralidade da vida da Igreja. Em 2019 o papa Francisco instituiu o terceiro domingo do tempo comum como Domingo da Palavra de Deus. Um dia especial de refletirmos a importância das Sagradas Escrituras em nossa vida, na vida da comunidade de fé. Na Bíblia está contida a Palavra de Deus, esse não é um livro de história, de biologia, de geografia, de filosifia, não é uma doutrina abstrata, mas pela fé sabemos que “a Palavra de Deus é viva e eficaz, é cortante e penetrante como espada de dois gumes” (cf. Hb 4, 12). Essa Palavra gera conversão e libertação, gera nova vida e santidade, porque ela é a Boa Nova de Salvação, que se fez Palavra encarnada.

            Na primeira leitura Jerusalém, ao retornar do exílio na Babilônia, faz festa ao celebrar a Palavra, ao redor da Palavra (Lei) se fortalecem ouvindo Esdras e Neemias, para continuarem o caminho sem desanimarem. “Todo o povo ouvia atentamente a Leitura do livro da Lei”. Temos nesse momento uma verdadeira “festa da Palavra” que enche o coração do povo. A Palavra de Deus faz questionar, para viver um caminho novo, de conversão e de vida nova. Ao ouvirmos a Palavra ela gera em nós questionamentos, mas também alegria para que possamos ser peregrinos de Esperança, não guardando essa Palavra para nós, mas vivendo essa Palavra em comunidade.

            No Evangelho Jesus ATUALIZA a Palavra, instaurando o “Jubileu” o tempo da graça e da libertação. Lucas se coloca como um historiador, tratando de investigar os fatos e escrever sobre os mesmos ao grande Teófilo, ou seja, ao amigo de Deus, a partir da escuta das testemunhas. Tudo isso para embasar a fé da Igreja. O Evangelho não é uma fábula, mas um testemunho de fé autêntico. Por isso, é preciso entender que a Palavra de Deus é Palavra escrita, mas também ela extrapola o escrito, pois não somos uma religião do Livro, da letra, a Palavra de Deus é viva, viva na história do povo, viva na história da Igreja e da Tradição. Como nos diz o evangelista João: “Ora, Jesus fez ainda muitas outras coisas. Se todas elas fossem escritas uma por uma, creio que nem o mundo inteiro poderia conter os livros a serem escritos” (Jo 21,25). A Palavra de Deus diz respeito a Revelação Divina contida na Bíblia e na Tradição, como nos diz o documento conciliar Dei Verbum. “A Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura constituem um só sagrado depósito da Palavra de Deus confiado à Igreja” (DV 10).

            Na Segunda Leitura a comunidade Igreja, “corpo místico de Cristo” é enviada como comunidade missionária-evangelizadora. “Vós, todos juntos, sois o Corpo de Cristo e, individualmente, sois membros deste Corpo”. A Igreja nasce da Palavra e é enviada em nome da Palavra. Nós não cremos em uma Filosofia de vida, ideologia ou fábula, cremos em uma Pessoa, e professamos esta fé na comunidade Igreja. Por isso, a Palavra deve ser o alimento cotidiano de cada cristão. Essa Palavra é a Esperança que nos impulsiona a seguir o caminho com alegria. Que Deus nos ajude, por meio de Sua Palavra a crescermos no conhecimento da Verdade, porque “só se ama aquilo que se conhece” (Santo Agostinho).

 

Pe Wesley Pires dos Santos

Pároco da Paróquia Cristo Rei

Ouro Preto MG


26 de Janeiro de 2025

sábado, 18 de janeiro de 2025

A FESTA DA VIDA, A FESTA DO AMOR!

 

II DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO C

1ª Leitura Is 62,1-5

Sl 95

2ª Leitura 1 Cor 12,4-11

Evangelho Jo 2, 1-11.



Celebramos o Tempo Comum, vale ressaltar, que esse não é um tempo menos importante do que os outros. Pelo contrário, é um tempo de suma importância. Primeiro, para reconhecermos que Deus não age só em coisas fantásticas ou miraculosas, mas age com maestria nas pequenas coisas de cada dia, fazendo do ordinário, o extraordinário. Segundo, porque nesse tempo acompanharemos Jesus em sua vida pública, em seu ministério, curando e salvando a todos sem exceção. A cor usada nesse tempo, é o VERDE. Verde da Esperança, mas a esperança não é um pensamento positivo, a Esperança é uma Pessoa, é Jesus Cristo, que não nos decepciona jamais. A Liturgia deste segundo domingo do tempo Comum nos apresenta a festa do amor e da alegria celebrada nas Bodas de Caná. Na Igreja Antiga, a Festa da Epifania, a Festa do Batismo do Senhor e a festa das Bodas de Caná era celebrada numa única festa. Por isso, a liturgia de hoje ainda está em sintonia com o Natal. Com nos diz o cardeal Tolentino de Mendonça, nosso Deus é “Um Deus que dança”, nos convida sempre a festejar, a experimentar a alegria verdadeira. Hoje contemplamos o início dos Sinais de Jesus, Ele o realizou em Caná da Galileia e manifestou a sua Glória, e seus discípulos creram nele (cf. Jo 2,11). A Liturgia nos apresenta uma grande festa de casamento, desde a primeira leitura o profeta Isaías nos mostra Jerusalém, Sião, envolvida pelo amor e pelo cuidado de Deus. Num contexto de volta do exílio, depois do edito de Ciro, Jerusalém está sendo reconstruída. Ela também é desposada, chamada pelo novo nome, ela é a alegria de Deus. Deus nunca desanimou do seu povo, mesmo diante das infidelidades. Por isso, a festa de casamento do quarto evangelho nos remete a uma Aliança muito maior. De forma proposital o autor sagrado não diz o nome dos noivos. O noivo é Deus e a noiva que é desposada em casamento é a Igreja. Deus envia o seu único Filho para morrer por nossa salvação e sela com a humanidade a Nova e Eterna Aliança de Amor. O vinho é sinal messiânico, da plenitude dos tempos, a hora é sinal da Eucaristia, é sinal da Entrega, do sacrifício da Cruz, Maria é a nova Eva, é a Mulher, símbolo da Igreja, símbolo da humanidade, com quem Deus realiza a aliança. Como Mulher, Maria torna-se Mãe da Igreja, Mãe de todos os viventes nos apontando seu Filho Jesus. As 6 talhas colocadas para a purificação é símbolo da antiga aliança, incompleta. A água é símbolo da nossa humanidade, que ao ser tocada pelo amor de Deus é santificada, divinizada, se transforma em verdadeira alegria.  Só experimentaremos o Vinho Novo da alegria concedido por Jesus na comunidade, na Igreja, colocando nossos dons a serviço, superando o egoísmo e o autorreferencialismo. Sabendo que é o mesmo e único Espírito que age em tudo e em todos gerando unidade e comunhão. Para isso, é preciso escutar a Mãe que diz: “Fazei o que Ele vos disser”. Ai experimentaremos o encanto novo, a Esperança que nos salva e cantaremos o cântico novo da nova e eterna aliança, comtemplando os prodígios de Deus entre os povos. Caná é o início da Igreja, povo da Aliança, comunidade da fé e da comunhão, peregrinos de Esperança.


Pe Wesley Pires dos Santos

Pároco da Paróquia Cristo Rei

Ouro Preto MG


18 de Janeiro de 2025







quarta-feira, 1 de maio de 2024

A IGREJA NASCE DO CORAÇÃO AMANTE DE DEUS PARA AMAR


Em tempos tão confusos na compreensão dos conceitos, das instituições dos valores, em tempos tão individualistas, onde o ser humano tem se fechado dentro de enormes muros, a ponto de nem conhecerem mais os vizinhos. Devemos nos perguntar o que é a Igreja?, onde está a Igreja? Quem é a Igreja? Para que existe a Igreja? Cresce hoje uma tendência moderna que contradiz o querer de Deus que diz: “Cristo sim, Igreja não”. Surge hoje o termo: “cristãos desigrejados”. Querem seguir a Cristo, mas não querem saber da Igreja, seus Dogmas, Ritos e Sacramentos. Contudo, não tem como seguir a Cristo sem ser Igreja. Não tem como viver a fé, sozinho, isolado, cada um no seu mundinho. A Igreja é um projeto que nasceu do coração de Deus. Vivemos em um contexto de extremos, de um lado muitos que não querem ser Igreja, querem viver um fé mesquinha e isolada, de outro lado, temos outros que nem sei denominar, que se acham mais “católicos” do que o Papa, a ponto de quererem ser “igreja” da sua forma, conforme os seus desejos, negando o próprio magistério da Igreja e a comunhão, sendo causa de cismas, e muitos desses, convertidos da noite para o dia, seguindo não a Palavra, não o catecismo, mas influencers digitais, já logo se acham conhecedores de todos os ensinamentos da Igreja. Tudo isso, mostra um grande desconhecimento da Igreja e da proposta de Cristo. Por isso, te convido a compreender a Igreja e a sua vocação para a comunhão.

Desde toda a eternidade, o Pai escolheu e destinou os seus eleitos para serem conformes a imagem do seu Filho e para serem santos e irrepreensíveis no amor. Entendemos que a Igreja é a imagem da Trindade. Deus é uno e trino, Deus é uma comunidade perfeita de amor. Na origem Deus criou o homem e a mulher, Adão e Eva, a sua imagem e semelhança, e sonhou para nós a felicidade perfeita, o paraíso, o bem supremo e a liberdade sem igual. Do primeiro homem e da primeira mulher surgiram os filhos. Desde a criação do homem, vemos também a origem da Igreja. Segundo Clemente, pastor de Hermas: “a Igreja preexiste no céu se corporifica na terra quando o homem criado por Deus é chamado à felicidade gloriosa, canta a Deus no paraíso, ou durante toda descendência de Abel, o mesmo hino de glória cantado pelo coro dos anjos”. O que significa pois a palavra Igreja? A palavra “Igreja” vem do hebraico קָהַל (lê-se: karal) e do grego ἐκκλησία [Ekklesía] que significa assembleia convocada, reunida, congregada. Por meio de Abraão Deus escolhe um povo, faz uma descendência santa (Gn 11-12), por meio de Moisés Deus convoca o povo para o louvor (Dt 31,30). Por meio dos 12 filhos de Jacó se deu origem às 12 tribos de Israel: Ruben, Simeão, Judá, Zebulão, Isacar, Asher, Neftáli, Efraim, Manassé, Gad, Benjamim e Levi (Gn 29, 32-35; 30,1-13, 17-24).  Deus escolhe portanto um povo, sela com eles uma aliança, concede a Lei e os conduz à Libertação. Tudo isso é prefiguração, preparação do povo da nova e eterna Aliança. Em Jesus, Deus institui de forma definitiva a Igreja, o povo congregado no amor, nascido da Cruz e da Ressurreição, alicerçados na fé dos 12 apóstolos: Pedro; Tiago; João; André; Filipe; Judas Iscariotes; Mateus; Tomé; Tiago, filho de Alfeu; Bartolomeu; Judas Tadeu; e Simão, o Zelote.

A fé sempre foi vivida em comum. Eu creio, nós cremos. Desde o início Deus sonhou o ser humano partilhando a vida com os outros, não vivendo sozinho, isolado, sonhou a fé constituída em comunidade de amor. No rito do Batismo a última pergunta que se faz antes da imersão na água é: “vocês querem que seu filho seja batizado na fé da Igreja que acabamos de professar?” Mais uma vez eu insisto, arrogante é aquele que se acha o perfeito, o melhor, que não tem humildade de fazer o caminho junto e em comunidade, caminho Sinodal. Diz o autor Thomas Merton: “Homem algum é uma ilha”. Essa frase resume bem o que é ser Igreja. Ser Igreja é ser Povo de Deus reunido no mundo inteiro, com o mesmo propósito. Deus criou o mundo em vista da Igreja, em vista da comunhão com sua vida divina, comunhão esta que se realiza pela convocação dos homens em Cristo para a Assembleia divina que é a Igreja. Diz Clemente de Alexandria: “Assim como a vontade de Deus é um ato e se chama mundo, assim também sua intenção é a salvação dos homens e se chama Igreja”. Por isso, podemos concluir que fora da Igreja não há salvação. Fora deste mistério de amor, de comunhão e de participação, no confronto com o outro, na irmandade, na partilha de vida, na unidade, não se alcança a Salvação. Se em Adão e Eva entra o pecado, a divisão no mundo. Em Cristo, ao instituir a Igreja entra a graça concedida a todos pelos sacramentos, sinais sensíveis e eficazes do amor de Deus na vida dos convocados. O Demônio gera caos, divisão e mentira. Deus congrega na unidade do seu eterno amor os filhos queridos. Na Igreja sejais vós instrumento de unidade, viva a fé em comunidade. Não se deixe levar por influencers, vá direto a fonte que é a Palavra de Deus e o Catecismo. Bento XVI disse na obra Compreender a Igreja hoje: vocação para a comunhão: “quer saber se estais na verdade, caminha na unidade”. “A Igreja é, por sua natureza, lugar de perdão, de forma que nela o caos é banido. Manter-se-á coesa pelo perdão e disto Pedro será sempre sinal: não é uma comunidade de perfeitos, mas uma comunidade de pecadores que necessitam e buscam perdão” (BENTO XVI). Arrogantes são aqueles que desejam fazer o caminho sozinho, não aceitam o magistério, criticam o papa, pensam serem os puros, perfeitos e selecionados, excluindo o diálogo. A Igreja não é um “grupinho” de selecionados, a Igreja é para todos, a salvação foi dada a todos na Cruz. Deus livre a Igreja do farisaísmo mesquinho que gera discórdia, divisão e cisma. Isso é diabólico. Infelizmente muitos não vão às fontes, ficam na superfície.

Por isso, podemos dizer de algumas categorias essenciais da Igreja. Ela é UNA, SANTA, CATÓLICA, APOSTÓLICA E ROMANA. Está no credo professado por todos em toda liturgia solene. “Creio na Igreja una, santa, católica e apostólica. Professo um só Batismo, para a remissão dos pecados. E espero a ressurreição dos mortos / e a vida do mundo que há de vir. - Amém”. Diz o Catecismo da Igreja em seu parágrafo 759: “O Pai eterno, por libérrimo e arcano desígnio de sua sabedoria e bondade, criou todo o universo; decidiu elevar os homens à comunhão da vida divina, à qual chama todos os homens em seu Filho: Todos os que creem em Cristo, o Pai quis chamá-los a formarem a santa Igreja. Esta família de Deus se constitui e se realiza gradualmente ao longo das etapas da história humana, segundo as disposições do Pai. Com efeito, desde a origem do mundo a Igreja foi prefigurada. Foi admiravelmente preparada na história do povo de Israel e na antiga aliança. Foi fundada nos últimos tempos. Foi manifestada pela efusão do Espírito. E no fim dos tempos será gloriosamente consumada”. Esta é a beleza de nossa Igreja, ela é Una, ou seja, a única fundada por Cristo, eis o que sustenta a Igreja, a sua universalidade, conforme se diz em Jo 10,16: “Há um só Pastor, um só Rebanho”. Há uma única igreja, que é Católica, presente em toda parte do mundo por meio das Igrejas Particulares que são as Arquidioceses e Dioceses, conduzidas pelos bispos e governada pelo Bispo de Roma, o Papa sucessor de Pedro, que foi quem recebeu o primado para governar, sucessores legítimos dos Apóstolos. Por isso, Ubi Petrus, ibi Ecclesia catholica!  “Onde está Pedro, aí esta a Igreja Católica”. Onde está o Papa, ai está a Igreja”. Eis o ponto de unidade e de comunhão.

A Igreja nasce das entranhas do amor de Deus, nasce de Cristo mesmo, a riqueza eterna, pão da eternidade, excelso rei, supremo bem, nosso tesouro, nossa pérola. Não encontramos com essa riqueza eterna senão fazendo a experiência do encontro com Deus e com os irmãos que se dá na Igreja Corpo Místico de Cristo, que se dá em cada Sacramento, que se dá por meio da partilha da Palavra e da Eucaristia que faz arder o nosso coração e nos interpela para a Missão, para que sejamos Igreja em toda parte. Eu sou Igreja, você é a Igreja, somos a Igreja do Senhor. Edificaremos esta Igreja fundada sobre a Rocha que é Cristo, alicerçados sobre a fé dos Apóstolos que perdura a mais de dois mil anos na Igreja peregrina nesta terra, que espera ansiosa o encontro com o seu Esposo que acontecerá na Parusia, no fim dos tempos, quando Cristo será tudo em todos. A Eucaristia faz a Igreja e a Igreja faz a Eucaristia. Eis o tesouro da Igreja que sustenta o mundo. Cada Eucaristia que celebramos, prefiguramos aqui na terra a realidade do Céu, quando enfim o Corpo unido à Cabeça suprema que é Cristo, poderá celebrar o Banquete Eterno preparado para a Igreja. “Somos nós este povo alcançado por tua Luz, fruto da tua obra na Cruz, o Senhor nosso Deus que merece o louvor, todo nosso amor, é o Rei que venceu, ao Cordeiro a vitória, poder, honra e glória”. Um povo de Ressuscitados, um povo de reconciliados. Porque a fé é relacional. Jesus não é uma ilusão, não é um fantasma. Ele se deixa encontrar por meio de Sua Igreja Santa, porque somos santificados por tua graça para alcançarmos o Céu. Não poderia estar em mais nenhum outro lugar, senão junto com os irmãos, junto com Cristo que está em nosso meio, que nos congrega. Por isso, em toda Missa rezamos: “O Senhor esteja convosco. Ele está no meio de nós.” Cremos em sua presença viva a resplandecer e a nos conceder a sua Paz Suprema que realiza a nossa vida e dá sentido à nossa história. E ai eu te pergunto: deixará tudo pela presença Dele, topa fazer parte deste povo, topa ser Igreja de verdade, Igreja evangélica, comunidade de amor. A Igreja é um Corpo, cada membro é diferente, mas há no corpo lugar para todos, eis a nossa vocação, nossa vocação é o Amor, porque o Amor primeiro nos alcançou. “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”. Eis a comunidade de amor instituída por Cristo, testemunhada pelos apóstolos que perdurará até a consumação do Reino.

Pe Wesley Pires dos Santos
Pároco da Paróquia Cristo Rei
Ouro Preto - MG. 








 

domingo, 8 de janeiro de 2023

FESTA DO BATISMO DO SENHOR ANO A O Batismo do Senhor é o nosso Batismo.

 


“Jesus Cristo é batizado, e o mundo é renovado. Ele deu-nos o perdão dos pecados e das faltas. Sejamos homens novos pela água e pelo Espírito”. Com a festa do Batismo do Senhor encerramos o ciclo do Natal. Jesus é manifestado não mais pela Estrela de Belém mas pela Voz vinda do Céu. Os que aguardavam um Messias como juiz violento, cheio de ira, que viria com poder e força, para castigar, estão agora decepcionados. Porque Jesus, de forma silenciosa e sem fazer alardes entra na fila dos pecadores como servo, “ele não clama nem levanta a voz, nem se faz ouvir pelas ruas” (Is 42, 2). Batizar-se é ser imerso na água, para os judeus o batismo era um rito penitencial, para a purificação dos pecados, para o batismo se confessavam os pecados. Mas por que Jesus está naquela fila? Ele não tem pecado? Tudo isso, porque Jesus decidi cumprir a justiça, para realizar a salvação que vem de Deus e cumprir a profecia que diz: “eu vos batizo com água, ele vos batizará no Espírito”. Jesus não brincou de ser gente, ele se faz pecado por nós, ou seja, ele assume em tudo a nossa humanidade, para nos resgatar do pecado e da morte, ele desce às águas para santificá-las e é investido de uma nova Missão. A Missão de libertar a humanidade. Por isso, no novo tempo litúrgico que agora iniciaremos, que é o tempo comum, acompanharemos Jesus em sua vida pública, contemplando o Cristo que vem para nos salvar, para nos curar, para nos libertar e nos conceder vida nova. O Batismo além de nos purificar dos pecados, em Jesus Cristo recebe um novo sentido, “o que não tem pecado nos lava em si primeiro”, ele nos insere em sua Missão, por que, a Trindade se manifesta no Jordão, o céu se rasga, já não há mais separação entre divino e humano, entre sagrado e profano, Deus habita este mundo, e se manifesta e nós. O Batismo continua o tema da “epifania”, há aqui também a manifestação do Deus uno e trino. O Filho é batizado, o Espírito se manifesta em forma de pomba e o Pai se manifesta por meio da Voz. Jesus chega ao Jordão como um homem qualquer, como servo, e se confunde com a multidão. Ao sair das águas, após sua manifestação, resgata o novo povo, o povo da nova e eterna aliança, que passa pelo mar vermelho a pé enxuto e alcança a Terra Prometida que é o Céu. Em Cristo Ressuscitado, novo Adão, é reatada a aliança de amor entre Deus e os homens, que antes fora rompida pelo pecado original. Diz a Voz: “Este é o meu amado, no qual eu pus o meu agrado”. O Batismo do Senhor é nosso Batismo. No filho de Deus, nós pelo batismo resgatados, nos tornamos filhos adotivos no filho Jesus. Que na festa de hoje, contemplando o Cristo Batizado nas águas do Jordão, fruto do seu esvaziamento, da sua humildade e do seu amor, nós possamos renovar em nós a chama da fé recebida no dia do nosso Batismo, para isso, é importante nunca esquecer a data que recebemos este sacramento que abriu as portas da vida cristã para nós, recebemos em nós a vida trinitária, o ser divino habita em nós. Assumamos nossa missão de como João Batista dizermos ao mundo: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. Dizermos não só com palavras, mas com o nosso agir cotidiano, em nossa vida pública, daqui para frente vivendo como batizados e dignos do nome de cristãos que assumimos.


Padre Wesley Pires dos Santos
Vigário Paroquial da Paróquia de Nossa Senhora do Pilar
Ouro Preto - MG.

sábado, 7 de janeiro de 2023

Não percamos de vista a Estrela para perseverarmos no Caminho - EPIFANIA DO SENHOR



 "Recordamos neste dia 3 mistérios: Hoje a estrela guiou os magos ao presépio, hoje a água se faz vinho para as Bodas, hoje o Cristo no Jordão é Batizado para salvar-nos”. Três mistérios que segundo alguns dizem ocorreram na mesma data. A palavra Epifania, do grego, significa Manifestação, Deus que se dá a conhecer, que se revela em sua Igreja a todas as nações (1ª Leitura “os povos caminham à tua luz e os reis ao clarão de tua aurora” Is 60, 3), não a um grupo específico e selecionado, mas a todos, até aos pagãos (2ª Leitura- “os pagão são admitidos à mesma herança, são membros do mesmo corpo, são associados à mesma promessa em Jesus Cristo, por meio do Evangelho” Ef 3, 6). Em Jesus Cristo, o Emanuel, Deus-conosco, o mistério escondido por séculos é revelado a todos os povos e nações, de diferentes raças, línguas e culturas. Essa manifestação conforme vai dizer o Concílio Vaticano II (GS 24;26;27), é um forte apelo à unidade fundamental da família humana. Em um mundo tão dilacerado, tão dividido e polarizado. Celebrarmos a Epifania do Senhor hoje, em nosso país e no mundo é com certeza um forte apelo do Senhor para que nós cristãos sejamos instrumentos de paz e de reconciliação, especialmente em um pais tão polarizado, em que há famílias dividas por causa de ideologias. Para isso, é preciso que retornemos ao primeiro amor, onde tudo começou, como diz Mircea Eliade: “toda religião, toda experiência religiosa nasce de uma manifestação do sagrado, o divino que rompe os céus e habita o tempo e o espaço”. Tenhamos a capacidade de olhar para o Céu em um mundo tão secularizado e tão imanentista (o homem se basta), e procuremos a “ESTRELA”, Jesus que vem iluminar a todos e clarear a noite escura da nossa humanidade (cf. Papa Francisco - Homilia da Epifania 2023), não a percamos de vista, deixemo-nos guiar por ela, e encontraremos um Rei, um rei não em um trono, mas nos braços de Maria, sempre Virgem; não em um palácio, mas num estábulo, sendo aquecido pelos animais; não na riqueza, esnobando os bens deste mundo, mas na pobreza, na simplicidade; não em Jerusalém com Herodes e seus comensais, mas a Nova Sião é Belém, onde tudo começou, aqui está a volta às origens, para que nunca percamos de vista nossa essência. Com este Natal, na solenidade da Epifania, deve haver uma ruptura em nossa vida, não podemos retornar para a mesma vida, nem pelo mesmo caminho, os magos guiados pela Estrela não seguiram o caminho de Herodes, mas outro caminho, o caminho de Jesus, o caminho da simplicidade, o caminho do desnudar-se, do esvaziamento, da pobreza e da simplicidade. Os magos ofereceram seus presentes, Ouro, Incenso e Mirra – Ouro, símbolo da realeza; Incenso símbolo da Divindade e Mirra símbolo da Humanidade. Quando ouvimos falar em presentes pensamos logo no consumismo, nas compras, como é vivido o Natal pagão de muitos. Mas e nós, nós enquanto cristãos, no hoje da nossa história, e da nossa existência, o que temos a oferecer a Jesus? Com certeza, o que ele mais quer é o nosso coração, convertido, arrependido, decidido a seguir outro caminho, o caminho do amor e da entrega de vida, em favor dos irmãos, principalmente dos mais necessitados. Porque o Deus que hoje se manifesta é amor, e não tem como dizer que amamos a Deus a quem não vemos, se não conseguimos amar os irmãos a quem vemos, com quem nos encontramos diariamente. Cesse toda inimizade, brote em nosso coração os elos de amor e de unidade, para que sejamos Estrelas a guiar todos para Cristo a ESTRELA MAIOR de nossa FÉ. Amém.

 

Padre Wesley Pires dos Santos
Vigário Paroquial da Paróquia de Nossa Senhora do Pilar

Ouro Preto -MG
8 de janeiro de 2023

terça-feira, 8 de março de 2022

TEMPO QUARESMAL – EXPERIMENTADOS NO DESERTO COM JESUS.

 


             

            A palavra “Quaresma” é originária do latim, quadragésima dies (quadragésimo dia”. É uma prática presente na vida dos cristãos desde o século IV. Inicia-se na Quarta-feira de Cinzas e encerra na Quinta-feira Santa com a Missa da Ceia do Senhor, quando se dá início ao Sagrado Tríduo Pascal da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor. Na Bíblia o número 40 tem grande significado simbólico: é o tempo de maturação, de provação, de tentação etc. Somos chamados a viver agora uma Quarentena, um tempo em que subimos ao Deserto para com o Senhor sermos amadurecidos na fé, a fazermos uma verdadeira faxina na nossa alma, a aparar as arestas, a afinar os acordes da nossa vida com o ritmo da música da santidade que é dom de Deus. Assim, nosso caminho quaresmal recorda e celebra os 40 dias do dilúvio da Arca de Noé, tempo em que Deus purificou a humanidade; os 40 dias de Moisés no Monte Sinai, tempo de jejum e oração para o encontro com Deus e recebimento da Lei; os 40 anos de peregrinação do povo de Israel no deserto, tempo de provação no caminho rumo à Terra Prometida; os 40 dias em que Elias caminhou pelo deserto rumo ao monte Horeb, monte de Deus, tempo em foi alimentado pelo pão do céu; e por fim, aos 40 dias de Jesus no deserto, tempo da tentação em preparação para o início de sua vida pública, da sua missão. Vivemos o grande Retiro Espiritual do povo de Deus.

É importante termos em mente que a Quaresma não tem um fim em si mesma, mas essa nos conduz à Pascoa, o centro de todo o ano Litúrgico. A Quaresma é um tempo em que os catecúmenos são preparados e provados para receberem o Batismo na Vigília Pascal. Como eles, nós também somos convidados a renovar e reavivar em nós as disposições para a renovação das promessas Batismais, na maior de todas as Vigílias. Isso quer dizer que viver a Quaresma é se propor a adentrar em um combate espiritual, a lutar contra o pecado, o que perdura durante toda a vida, para que a força do Batismo nunca se perca. Neste tempo de graça a Igreja quer nos preparar para que experimentemos em nossa vida pessoal e comunitária a Páscoa de Jesus, para que nossa condição adâmica seja transfigurada em condição crística. Com Cristo subimos a Jerusalém, percorremos o caminho da Cruz, passamos pela morte, para chegarmos à nova vida. Por isso, a Quaresma é o tempo favorável de crescimento e redescoberta do ser discípulo de Cristo. A penitência nos ajuda nesse caminho comunitário e pessoal de libertação pascal.

A Quaresma é sustentada por três pilares que de forma muito prática nos ajudam a melhor viver esse tempo e a avaliar nossas opções de vida. A oração, o jejum e a esmola, sustentados pela misericórdia e a solidariedade. “O que a oração pede, o jejum alcança e a misericórdia recebe: Oração, misericórdia, jejum: três coisas que são uma só e se vivificam reciprocamente” (São Pedro Crisólogo, século IV). Ambos nos direcionam para a reflexão sobre o relacionamento. Deus é relação. Nós somos relação. Assim, devemos pensar como está nosso relacionamento com Deus, com o próprio eu e com os irmãos. É tempo de maior intimidade com o Senhor, por meio da oração pessoal e comunitária. É tempo de regrar nossos desejos e instintos por meio da disciplina, para que ordenemos nosso coração conforme o desejo do próprio Deus. Eis o tempo favorável, eis o tempo de conversão, é preciso rasgar o coração e não as vestes, para que possamos deixar de sermos o centro e assumir a dinâmica do serviço e da doação. A caridade deve ser nosso ideal, ajudando tantos irmãos que necessitam da nossa ajuda para levar a cruz de cada dia. Como gesto concreto, a Igreja no Brasil, a mais de cinquenta anos realiza a Campanha da Fraternidade, meio do qual podemos refletir e realizar ações, enquanto Igreja, na e para a sociedade.

Com a Quaresma somos convidados ao Deserto, lugar do encontro com Deus, consigo mesmo e com os irmãos. Eis o caminho de Deus, eis o nosso caminho. Sem a Quaresma não há Páscoa, sem a Cruz não há Ressurreição. Unidos a Jesus, a Igreja adentra a grande provação da Quaresma, tempo de purificação, de tentação, de maturação na fé. É importante dizer que nesse combate espiritual não estamos sozinhos, o próprio Senhor que foi tentado, também caminha conosco dando forças e o discernimento para vencermos o poder inimigo. Ele mesmo jejuou e orou por 40 dias, consagrando as práticas quaresmais. Por meio das práticas externas da Quaresma nosso coração deve ser transformado interiormente para que purificado por esses ritos anuais possamos esperar com alegria os mistérios pascais que são vida nova, novo ânimo e ardor na fé e nos tornarão filhos da luz.

Em união com o sacrifício de Cristo, também nós nos tornamos sacrifícios vivos para os nossos irmãos e irmãs, principalmente os que mais sofrem. Celebrar a Eucaristia nesse tempo, é percorrer com Cristo esse itinerário de provação que cabe à Igreja e a todos os homens. Além disso, a Quaresma é um tempo privilegiado para à escuta da Palavra de Deus, ao invés de nos conectar com os celulares, as televisões, vamos nos conectar com a esta Palavra, que se fez carne, nos edifica e transforma a terra árida do nosso coração. É tempo de abraçarmos a Obediência à vontade do Pai, para que possamos de fato vivermos a Liberdade dos filhos amados por Deus. O diabo tentará nos desviar do caminho, dizendo que não somos capazes, que não somos bons, que Deus não nos ama, nos oferecerá o desejo de posse, o prazer, o poder, a avidez pelo ter, o desejo pela glória humana e a instrumentalização de Deus ao nosso bel prazer. Mas ele não tem esse poder, Deus nos ama com amor infinito. Sejamos perseverantes neste caminho de Deserto, para crescermos na fé e assumirmos com autenticidade o nosso ser cristão. Nos inspire a perseverança de Moisés, a confiança de Elias e o ânimo de Cristo. Não sejamos como “folhas de bananeiras” que vai para onde o vento levar, não sejamos mais ou menos, cristãos de “meia tigela”: “Conheço as tuas obras. Não és frio, nem quente. Oxalá fosses frio ou quente! Mas porque és morno, nem frio, nem quente, estou para vomitar-te de minha boca” (Ap 3,15-16). Assumamos com afinco nossa fé, que essa não seja mais uma Quaresma na nossa vida, mas a Quaresma, um tempo da graça de Deus. Sejamos católicos mais autênticos, não sejamos como os fariseus que vivem de hipocrisia e aparências. “Como colaboradores de Cristo, nós vos exortamos a não receberdes em vão a graça de Deus, pois ele diz: ‘No momento favorável, eu te ouvi e, no dia da salvação, eu te socorri’. É agora o momento favorável, é agora o dia da salvação”. (2 Cor 6,1-2).


Texto escrito por: Wesley Pires dos Santos
Seminarista da Arquidiocese de Mariana-MG


A LITURGIA QUARESMAL:

·       “Todos os anos, pelos quarenta dias da Grande Quaresma, a Igreja une-se ao mistério de Jesus no deserto” (Catecismo da Igreja Católica, 540).

·       A Oração, o Jejum e a solidariedade são intensificados.

O JEJEUM e a ABSTINÊNCIA: Quando devo fazer? Na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa. Como fazer? Fazer uma refeição completa, durante o dia, ou duas pequenas. A ABSTINÊNCIA é de animais de “sangue quente” (cf. Cân. 1251). É preciso recordar que esta abstinência de carne é feita para honrar o sacrifício do Senhor ao morrer na cruz para limpar nossos pecados. Desde a antiguidade, a carne vermelha foi símbolo de opulência e celebração. Por isso, consumi-la durante a Quaresma não combinaria com o sentimento de reflexão e humildade desta época litúrgica. “Ah, então são apenas as carnes vermelhas que são proibidas”, pensarão alguns. Não, o frango – que é carne branca – também não é permitido na Quaresma. Mas por que então o peixe está liberado? O cristianismo herdou do judaísmo essa tradição cultural que não classifica peixe como carne. Peixes são animais pecilotérmicos, ou seja, de “sangue frio” (para ser mais preciso, seu sangue varia conforme a temperatura ambiente). Por sua vez, os animais de carne vermelha e as aves são homeotérmicos. Ou seja, o sangue deles é quente, assim como o sangue que Nosso Senhor derramou na cruz. Peixes também, em geral, não morrem derramado sangue, como Jesus.

·       MEDITAÇÕES: Além do jejum, da abstinência, da penitência, para revigoramento da alma é necessário aperfeiçoar nossa fé com as meditações que elevam à contemplação. É bom estudar as leituras bíblicas da Paixão de Nosso Senhor e seguir as meditações próprias para esse tempo, como também a VIA CRUCIS, ou VIA SACRA.

·       A Campanha da Fraternidade, é uma boa ação a ser desenvolvida nesse tempo.

·       Nos domingos e dias de semana, na celebração da Eucaristia, da Palavra e no Ofício Divino, as orações e os textos bíblicos e patrísticos vão orientando nosso caminho.

·       O ESPAÇO LITÚRGICO seja despojado e sóbrio. Os vazios e as ausências nos ajudam a esvaziar o coração para preenche-lo com a Palavra, que é luz para nossos passos e nos converte.

·       Momentos de SILÊNCIO, principalmente entre as leituras e após a homilia, são importantes.

·       A COR LITÚRGICA para a Quaresma é a ROXA, que expressa a dimensão maior de penitência e disposição à conversão.

·       Os Domingos desse tempo se chamam 1º,2º,3º,4º e 5º Domingo da Quaresma. O 6º Domingo toma o nome de “Domingo de Ramos da Paixão”. Esses domingos têm sempre a precedência, mesmo sobre as festas do Senhor e qualquer solenidade. (São José, 19 de março; Anunciação do Senhor, 25 de março –antecipam sua solenidade para o sábado caso coincidam com esses domingos).

·       O 4º Domingo da Quaresma é conhecido, na tradição latina, como domingo da alegria ou laetare (em latim, “alegrar-se”). Nesse dia, pode-se usar a cor rosa ou o róseo.

·       Nos domingos 3º,4º e 5º da Quaresma podem-se também utilizar as leituras do ano A, leituras que na tradição deram o nome a esses domingos (domingos da samaritana, do cego de nascença, de Lázaro), nos quais ainda hoje podem-se fazer os “escrutínios” para a iniciação cristã dos adultos; por isso têm um caráter batismal.

·       Em cada domingo, o prefácio escolhido deverá assemelhar-se aos textos bíblicos do dia. Ver os prefácios próprios para a Quaresma batismal.

·       Não se diz o GLÓRIA, o ALELUIA. Os SINOS e CAMPANHIAS são silenciados (Para que irrompam no ALELUIA TRIUNFAL do SÁBADO SANTO).

·       A CRUZ, pela qual fomos marcados no Batismo, deve ser destacada. Ela lembra que somos discípulos e discípulas de Jesus, que superou o fracasso humano da Cruz com um amor que vem a morte.

·       Os cantos e melodias expressam o sentido próprio do mistério celebrado; por isso, cuide-se para que não apenas deixem de ser cantados o Glória e o Aleluia, mas que, tanto no conteúdo quanto no ritmo e no uso dos instrumentos, eles sejam uma verdadeira expressão da Quaresma.

·       Alguns gestos e ações simbólicas podem ser mais valorizados neste tempo, por exemplo, o ajoelhar-se, o rito da bênção e a aspersão da água durante o ato penitencial.

·       A comunidade pode fazer maior experiência da misericórdia de Deus através do sacramento da Reconciliação, de celebrações penitenciais e também de retiros.

·       Nas Vésperas do V Domingo da Quaresma: “Pode-se conservar o costume de cobrir as cruzes e imagens da Igreja, a juízo das Conferências Episcopais. Aas cruzes permanecerão veladas até o fim da celebração da Paixão do Senhor, na Sexta-feira Santa. As imagens, até o início da Vigília Pascal” (MR, 211).

·       No processo catecumenal, são realizados no 1ª Domingo os ritos de eleição e inscrição do nome. O 3º, o 4º e o 5º Domingo são destinados aos escrutínios: a oração sobre os eleitos, preces e exorcismos, e também à entrega do Símbolo (o Credo), do Evangelho e da Oração do Senhor (Pai-Nosso).

O CAMINHO QUE PERCORREREMOS...


·       No primeiro domingo, conduzidos pelo Espírito vamos com Jesus ao deserto, tomamos consciência das lutas e provações que fazer parte do nosso caminho como Igreja e aprendemos com Ele a conviver com as feras e os anjos. Ele próprio vencendo o diabo (o que divido) é o sinal da nossa própria vitória contra (o fermento da maldade” (cf.Prefácio do 1º Domingo da Quaresma).

·       No segundo domingo, ouvimos o relato da Transfiguração. Contemplamos antecipadamente o Mistério da Ressurreição, que resplandece na Luz do transfigurado. “Tendo predito aos discípulos a própria morte, Jesus lhes mostra, na montanha sagrada, todo o seu esplendor. E com o testemunho da Lei e dos Profetas, simbolizados em Moisés e Elias, nos ensina que, pela Paixão e Cruz, chegará a glória da ressurreição” (Prefácio do 2º Domingo da Quaresma).

·       No terceiro domingo, acolhemos a Boa Nova no episódio em que Jesus expulsa do templo os vendilhões e anuncia a construção de um novo templo. A Quaresma tem nos ajudado na edificação do templo espiritual que somos nós? Somos o novo templo, mas precisamos purificar-nos continuamente de tudo aquilo que não nos deia oferecer sacrifícios agradáveis ao Senhor.

·       O quarto domingo é chamado “O domingo da Alegria”. Com Nicodemos, aprendemos de Cristo que só se salva quem tem a coragem de dar a sua vida. A Palavra proclamada lembra os males da infidelidade e mostra que seguir os caminhos do Senhor traz paz, segurança e salvação.

·       No quinto domingo lembramos que o caminho do/a discípulo/a de Jesus passa pela cruz. A penitência destes 40 dias retoma esta dimensão do discipulado. O colocar-se por inteiro a serviço do reino como Jesus, implica necessariamente na entrega da vida, na capacidade de suportar sofrimentos e de relevar contratempos. A experiência de passar pelo vale da morte, tem em si uma força transformadora, à medida que nos liberta de toda ilusão e pretensão para “a verdadeira liberdade para a qual Cristo no libertou”.

 FORMAÇÃO LITÚRGICA (texto adaptado das rubricas do Missal Romano, do Missal Cotidiano e Dominical e do livro LITURGIA EM MUTIRÃO III-subsídios para a Formação).