Com
a imposição das cinzas sobre a nossa cabeça, ouvindo o chamado da Igreja:
“Convertei-vos e crede no Evangelho”, “Lembra-te que és pó e ao pó voltarás”,
iniciamos o tempo Quaresmal. Um tempo de travessia rumo à Páscoa do Senhor,
rumo à vida nova, tempo de conversão. O número 40 traz consigo toda uma
simbologia, fazemos memória do povo de Deus que caminhou 40 anos pelo deserto rumo
a Terra prometida, nos recordamos dos 40 dias que Nosso Senhor passou pelo deserto
vencendo as tentações para assumir a sua grande Missão. O número 40 é portanto,
um tempo de preparação, de maturação, tempo de conversão e de mudança de vida.
Somos
chamados pelo profeta Joel a voltar para o Senhor, a rasgar o coração e não as
vestes. Nesse tempo forte reconhecemos que todas as práticas exteriores devem
tocar o interior. É preciso de fato viver uma fé autêntica, não uma
religiosidade da superficialidade. O Céu se rasga, graças são derramadas em
nossos corações. “Eis o tempo favorável, eis o dia da conversão". Por isso é
tempo de travessia, e queremos embarcar nessa viagem com Jesus, nosso único
mestre.
Para
essa viagem Jesus nos sugere no Evangelho três práticas que nos ajudam a vencer as ondas bravias do mundo e do nosso interior, lugar onde bate um coração de
pedra e não de carne. A primeira é a oração, é preciso intimidade com Deus, sem
intimidade não tem fé, é preciso crescer na vida de oração, na leitura orante
da palavra de Deus, é preciso se conectar com o Céu. Temos esquecido das realidades eternas, temos esquecido do Céu. A oração é a força para vencermos o Demônio, as tentações,
que nos levam ao egoísmo, ao orgulho, às divisões. A segunda é o jejum, diz
respeito ao relacionamento consigo mesmo, é a disciplina que nos leva a
disponibilidade e a solidariedade. O jejum ajuda a cortar pela raiz os nosso
vícios, para não perdemos de vista a meta. A terceira é a esmola – caridade,
chamados a sair de nós mesmos para irmos ao encontro dos irmãos, especialmente os mais sofredores, sabendo que a preparação para a Páscoa se faz
“Campanha da Fraternidade”, o nosso pecado incide na comunidade, e precisamos
juntos estender as mãos para os irmãos e para a nossa Casa Comum.
Neste
ano de 2025 somos convidados pela Igreja do Brasil a vivermos a Ecologia Integral,
somos guardiões e cuidadores de toda a criação. E como ato concreto, em
nossa cidade de Ouro Preto, Patrimônio Mundial da Humanidade, queremos dizer
NÃO à Mineração na Comunidade do Botafogo, uma ameaça ao patrimônio histórico,
cultural e natural de Ouro Preto. Algo que ameaça não só o entorno de onde estão
querendo explorar, mas afeta toda a nossa cidade. Ouçamos "o grito da criação que geme como em dores de parto".
É
preciso nesse tempo quaresmal abrir espaço para Deus e para os irmãos, somos
chamados a viver o amor, ancorando nossa vida na Esperança, pois ela não nos
decepciona jamais. A religião não é mágica, por isso, não basta preparar-se com
um Rito Penitencial, é necessário que todo homem se abra a graça, e do mais
profundo do seu ser se volte para Deus. Vivamos bem este tempo favorável, tempo
de penitência, jejum e oração. Lembremos do que diz São Leão Magno: “Nós vos
prescrevemos o jejum, lembrando-vos não só a abstinência, mas também as obras
de misericórdia. Deste modo, o que tiverdes economizando nos gastos normais se
transforme em alimento para os pobres”. Na travessia que faremos rumo à Páscoa
é preciso reconhecer que a nossa fé é feita de Cruz, e a Cruz tem duas hastes,
uma vertical que faz-nos olhar para o Céu e amar mais a Deus e outra horizontal
que faz-nos olhar para a Casa Comum e amar mais os irmãos e o Planeta a nossa
volta, vivendo a Ecologia Integral, porque “Deus viu que tudo era muito bom”
(Gn 1,31). Lembre-se, a Liturgia é a celebração da vida.
Pe Wesley Pires dos Santos
Pároco da Paróquia Cristo Rei
Ouro Preto MG.




