domingo, 19 de fevereiro de 2017

CARNAVAL: FESTA DA CARNE OU FESTA DE ALEGRIA?


Estamos prestas a celebrar a festa popular mais querida do Brasil, o Carnaval. A palavra carnaval vem do Latim carnis vales, que quer dizer retirar a carne. A festa acontecia desde a antiguidade, quando prisioneiros se transformavam e viviam a vida dos reis durante os dias da festa, sendo constituída como uma festa pagã. Havia nestes dias uma mudança de papéis, ou seja, colocavam máscaras, para mudar o jeito de ser durante estes dias de festa; inclusive na mesopotâmia havia homens e mulheres que se transformavam, os homens vestiam-se de mulheres e vice-versa. Assim, era considerada também a festa das orgias, marcada pela embriaguez e pela busca dos prazeres, em honra do deus Dionísio, deus do vinho.
            Passado algum tempo, com o nascimento do cristianismo, tivemos uma aversão muito grande a esta festa, considerada como festa de orgias em honra aos deuses pagãos. Esta inversão dos papéis na sociedade, dito acima, era tido pela Igreja uma inversão da relação com Deus também, muitas vezes dando lugar ao demônio. Com o domínio da cristandade no mundo, as pessoas começaram a dar outro valor a esta festa. A data do carnaval é contada a partir da data da sexta-feira da paixão, na qual se olha o período da lua, vindo do calendário cristão gregoriano do século XVI. A festa tornou-se a “festa da carne”, ou seja, nestes dias os cristãos comiam bastante carne, segundo a tradição popular, se preparando para os dias de jejuns que deveriam viver durante o tempo quaresmal.
            No Brasil, a festa chegou ainda no tempo da colônia. O povo ia para as ruas brincar, se fantasiar, com isso deu-se inicio as festas do Frevo, Maracatu e outros. Depois o Samba, marchinhas também foram incorporadas ao Carnaval brasileiro, tornando uma festa com enorme especificidade da de outros países. Considerada a festa popular mais tradicional do país, o faz ser conhecido em todo mundo como país do Carnaval e do Futebol. A festa passou a ser um momento de descontração e de brincadeiras. Hoje em dia podemos contar no carnaval brasileiro com vários ritmos musicais, com várias escolas de samba e vários blocos de carnaval.
            Tudo isso, não foi diferente também na cidade dos meus “olhos” a Princesinha da Serra, situada na Zona da Mata Mineira, a cidade de Senador Firmino. Nosso povo desde tenra idade de vila, se reunia, para brincar esta festa nacional. Segundo consta a história, havia escolas de samba, dentre elas cito as que ouvi falar, o Sacarrolha e os Bambas. Durante o período acontecia os desfiles com carros alegóricos, samba enredo e tínhamos também os jurados e as escolas campeãs. Quem dera que pudéssemos voltar aos tempos de outrora, no qual as famílias se uniam para construírem juntas, esta bela festa.
Depois de alguns, já na contemporaneidade, quase na virada do milênio, no paroquiato do Pe. Luiz Faustino, tivemos também o bloco “Carnaval com Cristo”, o qual desfilava com músicas de acordo com o tema da campanha da fraternidade de cada ano. Lembro claramente deste período, no qual, pude também participar mesmo que pequenino. Ao chegar na praça Raimundo Carneiro, juntava aquela multidão, cantando para Cristo, “Vai sacudir, vai abalar, quando meu Jesus passar...”. Foi muito bom este tempo, quem sabe um dia ainda retorne.
Mas enfim, não estou aqui para fazer saudosismo nenhum com esta mensagem sobre o Carnaval. Ao contrário, desejo citar Dom Hélder Câmara, santo dos nossos tempos que falou sabiamente sobre o Carnaval: “Carnaval é a alegria popular. Direi mesmo, uma das raras alegrias que ainda sobram para a minha gente querida. Peca-se muito no carnaval? Não sei o que pesa mais diante de Deus: se excessos, aqui e ali, cometidos por foliões, ou farisaísmo e falta de caridade por parte de quem se julga melhor e mais santo por não brincar o carnaval. Brinque meu povo querido! Minha gente queridíssima. É verdade que 4ª feira a luta recomeça. Mas, ao menos, se pôs um pouco de sonho na realidade dura da vida!”.
Por fim, podemos dizer que o Carnaval é uma festa sadia e que muito nos alegra. Sejam dias de alegria e diversão, lembrando sempre da frase de São Paulo “tudo posso, mas nem tudo me convém”. O cristão deve se fazer presente nas praças, nos blocos, nas escolas de samba, nos matinês; enfim, deve se fazer presente nesta festa popular; dando testemunho que tem como estar no mundo e não ser do mundo. Ser de Cristo é também dar testemunho Dele nestes ambientes, porque aí muitas pessoas necessitam de nós, não para pregar, mas para testemunhar com a vida.
 É preciso se alegrar neste dias e mostrar que para isso, não é necessário, encher a “cara”, beber “todas”, se prostituir, nem usar qualquer tipo de droga. Ao contrário a alegria nos vem do encontro entre pessoas, nos laços de convivência e na alegria fraterna que esta festa nos trás. Que o Carnaval seja para todos nós cristãos, a festa da “carne” sim, não da carne dos prazeres desregrados, mas sim do encontro entre irmãos, nos preparando para depois vivermos profundamente o tempo propício de Deus, que tem muito a nos ensinar, que é o tempo Quaresmal.

Assim, lembrando os velhos carnavais firminenses que muito nos ensinou, trago a saudosa memória de todos nós firminenses este belo samba enredo abaixo citado, escrito por Dona Leonor Benedito para o Saca- rolha que conta a história de Senador Firmino. Que esta festa abrilhante nossa cidade sempre mais, sejam dias de paz e de encontro fraterno, dias de alegria, nestes tempos de grandes turbulências. Salve nossa cidade, Salve nosso Carnaval, que a faz conhecida por muitos como “Salvador Firmino”, tendo o melhor carnaval da região, com seus novos blocos, cito aqui o mais popular “SenaFolia”. Que nossa juventude aproveite bastante, lembrando que acima de tudo o que nos torna feliz não é o momento, mas a vida futura que está por vir. “E o Saca- rolha voltou, para contar a nossa história...”




 “HISTÓRIA DE SENADOR”-Samba enredo do Bloco “Saca- rolha”

“E o Saca- rolha voltou pra contar a nossa história
A história de Senador, terra de paz e amor
Os filhos de Borba Gato, Antonio Fernandes e Feliciano Cardoso
Se embrenharam pelo mato, viram Rio Turvo e vistoso
Levantaram Cabanas e plantaram um milharal
Aqui ficaram e fundaram um Arraial

De Rocha te batizaram, porque aqui encontraram
Ruídas Cachoeiras que borbulhavam de lindas pedreiras
Criança, o próspero Arraial, caminho dos Inconfidentes
Que fugindo do fisco de Portugal, levava o ouro a Tirandentes
Olha o tacho de Ouro, quem quer procurar
No Rio Turvo ainda pode encontrar

Procedente da Suíça, aqui chegou Padre Jacinto
Homem, Santo, Culto e amado
Que ensinou a este povo descuidado
Sua memória permanece, sua glória está presente
Quanta fé nos trás, este homem Santo e capaz

Que com sacrifícios, construiu linda Matriz
De Nossa Senhora Conceição do Turvo
Minha terra Natal, terra de paz e amor
Foste toda esta história e é hoje Senador”

Dona Leonor Benedito.
Melodia: Maury Arantes.



Wesley Pires dos Santos
Seminarista da Arquidiocese de Mariana.


Um comentário:

  1. Parabéns, Wesley!
    Que linda explicaçao e bem escrita! Vc é demais. Deus o abençoe...

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