quinta-feira, 2 de novembro de 2017

O MISTÉRIO DA MORTE


Comemoração dos Fiéis Defuntos

Ó mistério insondável, ó mistério difícil de desvendar. “É diante da morte que o enigma da condição humana atinge seu ponto mais alto” (GS, 18). Assim é a realidade da Morte, mistério do qual nem mesmo a ciência foi capaz de mostrar de fato a partir da realidade empírica o que se passa após a morte, ou se a vida acaba com a morte. Neste sentido, proponho esta reflexão, no dia em que comemoramos todos os fiéis Defuntos. Comemorar é sem dúvida trazer a memória do nosso coração tantas pessoas que encerraram a sua trajetória neste mundo.
             Muitos devem se perguntar: porque comemorar o dia daqueles que já morreram? Podem pensar, tudo passa, nós passaremos, todos um dia morreremos e com a morte tudo encerrará. Por isso, dizem: vamos aproveitar a vida da melhor forma possível. Esse é um pensamento fatalista da morte, ou seja, viver o hoje da vida, sem a esperança de algo que está para além da realidade humana deste mundo, pensamento este que tem proliferado tanto em nosso mundo contemporâneo. Ao contrário, Comemorar todos os fiéis Defuntos, não é apenas lembrar para sentir tristeza ou cutucar uma ferida que dói. Comemorar é trazer a memória do coração todos os que já não se encontram mais junto de nós neste mundo, mas que de alguma forma com seus gestos marcaram a história de nossa vida.
            A tradição de se comemorar o dia de Finados remonta o século II da era cristã. Desde a origem do cristianismo em que se rezam nas catacumbas era costume se rezar pelas almas dos mártires. O dia 2 de novembro foi instituído para ordem beneditina, como dia de todos os fiéis falecidos pelo monge Odilo de Cluny em 998. Posteriormente, no século XII esta comemoração se popularizou no mundo cristão, sendo celebrada por todos.
            Alguns podem se perguntar por que rezar pelos que já morreram? E ainda afirma: tudo se acabou com a morte. Este é um argumento dos pensadores modernos. Penso que nosso Deus não é o Deus dos mortos, mas o Deus dos vivos, uma vez que, todos vivem para ele (cf. Lc 20, 38), ou seja, nosso Deus nos criou para a eternidade e não para este mundo, no qual finalizamos nossa caminhada com a morte. Por isso, todos os que morreram na justiça de Deus, se encontram sem dúvida junto Dele, pois o próprio livro da Sabedoria (Sb 3,1) nos garante que “A vida dos justos está nas mãos de Deus” e continua dizendo “Aos olhos dos insensatos, aqueles que pareciam ter morrido, e o seu fim foi considerado como desgraça. Os insensatos pensavam que a partida dos justos do nosso meio era um aniquilamento, mas agora estão na paz. As pessoas pensavam que os justos estavam cumprindo uma pena, mas esperavam a imortalidade” (Sb 3, 2-4).
Hoje somos convidados a rezar, portanto, por todos os nossos antepassados, bem como também todas as almas, principalmente as mais esquecidas, para que purificadas encontrem em Deus o seu refúgio. De acordo com a nossa fé, não só podemos, como devemos rezar pelos mortos, uma vez que, acreditamos que mesmo que tenham morrido em pecado, tem igualmente a chance de se purificar para entrar nas alegrias eternas, passando pelo purgatório (lembrando que céu, purgatório e inferno não é lugar, mas estado que a alma experimenta). A própria Escritura nos mostra esta realidade do purgatório: “No que concerne a certas faltas leves, deve-se crer que existe antes do juízo um fogo purificador, segundo o que afirma aquele que é a Verdade, dizendo, que, se alguém tiver pronunciado uma blasfêmia contra o Espírito Santo, não lhe será perdoada nem no presente século nem no século futuro” (Mt 12, 32). Contudo, devemos rezar por estes que se encontram no purgatório cumprindo aquilo que nos mostra em Macabeus; “Eis por que [Judas Macabeu] mandou oferecer esse sacrifício expiatório pelos que haviam morrido, a fim de que fossem absolvidos de seu pecado” (2Mc 12, 45).
Assim concluo, com o que disse Blaise Pascal (Pens., 781) “Jesus Cristo, redentor de todos’. Sim, porque ele ofereceu, como um homem que resgatou todos os que queriam ir a ele. Os que morrerem no caminho terão sido infelizes; mas ele lhes oferece a redenção”. Com isso, tenhamos sempre a esperança na vida com Cristo que está por vir, nunca percamos esta esperança, não é uma perca de tempo acreditar na Ressurreição. Conforme diz São Paulo, “Se Cristo não ressuscitou vã é nossa fé, se os que morrem não ressuscitam então somos testemunhas falsas de Deus” (cf. 1 Cor 15, 14-15). Por isso, vivamos bem na esperança de alcançar a vida eterna junto de Deus e rezemos por todos os que já partiram, para que eles também sejam nossos intercessores junto de Deus. No último dia poderemos enfim contemplar Deus face a face, tal como Ele é, e sermos convidados para o Banquete que nunca tem fim. Por fim, poderemos festejar juntos enquanto Igreja, novo povo escolhido e resgatado.

 “Nele brilhou para nós a esperança da feliz ressurreição. E, aos que a certeza da morte entristece, a promessa da imortalidade consola. Senhor, para os que crêem em vós, a vida, não é tirada, mas transformada. E, desfeito o nosso corpo mortal, nos é dado, nos céus, um corpo imperecível” (Prefácio dos fiéis Defuntos I)



Wesley Pires dos Santos

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