terça-feira, 4 de março de 2025

QUARESMA- TEMPO DE TRAVESSIA, PEREGRINOS DE ESPERANÇA!

 


Com a imposição das cinzas sobre a nossa cabeça, ouvindo o chamado da Igreja: “Convertei-vos e crede no Evangelho”, “Lembra-te que és pó e ao pó voltarás”, iniciamos o tempo Quaresmal. Um tempo de travessia rumo à Páscoa do Senhor, rumo à vida nova, tempo de conversão. O número 40 traz consigo toda uma simbologia, fazemos memória do povo de Deus que caminhou 40 anos pelo deserto rumo a Terra prometida, nos recordamos dos 40 dias que Nosso Senhor passou pelo deserto vencendo as tentações para assumir a sua grande Missão. O número 40 é portanto, um tempo de preparação, de maturação, tempo de conversão e de mudança de vida.

Somos chamados pelo profeta Joel a voltar para o Senhor, a rasgar o coração e não as vestes. Nesse tempo forte reconhecemos que todas as práticas exteriores devem tocar o interior. É preciso de fato viver uma fé autêntica, não uma religiosidade da superficialidade. O Céu se rasga, graças são derramadas em nossos corações. “Eis o tempo favorável, eis o dia da conversão". Por isso é tempo de travessia, e queremos embarcar nessa viagem com Jesus, nosso único mestre.

Para essa viagem Jesus nos sugere no Evangelho três práticas que nos ajudam a vencer as ondas bravias do mundo e do nosso interior, lugar onde bate um coração de pedra e não de carne. A primeira é a oração, é preciso intimidade com Deus, sem intimidade não tem fé, é preciso crescer na vida de oração, na leitura orante da palavra de Deus, é preciso se conectar com o Céu. Temos esquecido das realidades eternas, temos esquecido do Céu. A oração é a força para vencermos o Demônio, as tentações, que nos levam ao egoísmo, ao orgulho, às divisões. A segunda é o jejum, diz respeito ao relacionamento consigo mesmo, é a disciplina que nos leva a disponibilidade e a solidariedade. O jejum ajuda a cortar pela raiz os nosso vícios, para não perdemos de vista a meta. A terceira é a esmola – caridade, chamados a sair de nós mesmos para irmos ao encontro dos irmãos, especialmente os mais sofredores, sabendo que a preparação para a Páscoa se faz “Campanha da Fraternidade”, o nosso pecado incide na comunidade, e precisamos juntos estender as mãos para os irmãos e para a nossa Casa Comum.

Neste ano de 2025 somos convidados pela Igreja do Brasil a vivermos a Ecologia Integral, somos guardiões e cuidadores de toda a criação. E como ato concreto, em nossa cidade de Ouro Preto, Patrimônio Mundial da Humanidade, queremos dizer NÃO à Mineração na Comunidade do Botafogo, uma ameaça ao patrimônio histórico, cultural e natural de Ouro Preto. Algo que ameaça não só o entorno de onde estão querendo explorar, mas afeta toda a nossa cidade. Ouçamos "o grito da criação que geme como em dores de parto".

É preciso nesse tempo quaresmal abrir espaço para Deus e para os irmãos, somos chamados a viver o amor, ancorando nossa vida na Esperança, pois ela não nos decepciona jamais. A religião não é mágica, por isso, não basta preparar-se com um Rito Penitencial, é necessário que todo homem se abra a graça, e do mais profundo do seu ser se volte para Deus. Vivamos bem este tempo favorável, tempo de penitência, jejum e oração. Lembremos do que diz São Leão Magno: “Nós vos prescrevemos o jejum, lembrando-vos não só a abstinência, mas também as obras de misericórdia. Deste modo, o que tiverdes economizando nos gastos normais se transforme em alimento para os pobres”. Na travessia que faremos rumo à Páscoa é preciso reconhecer que a nossa fé é feita de Cruz, e a Cruz tem duas hastes, uma vertical que faz-nos olhar para o Céu e amar mais a Deus e outra horizontal que faz-nos olhar para a Casa Comum e amar mais os irmãos e o Planeta a nossa volta, vivendo a Ecologia Integral, porque “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31). Lembre-se, a Liturgia é a celebração da vida.

 

Pe Wesley Pires dos Santos

Pároco da Paróquia Cristo Rei

Ouro Preto MG.

 


sábado, 25 de janeiro de 2025

JESUS, PALAVRA ETERNA DO PAI

 

III DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO C



DOMINGO DA PALAVRA DE DEUS

LEITURA I – Neemias 8,2-4a.5-6.8-10

Salmo 18 B (19)

LEITURA II – 1 Coríntios 12,12-30

EVANGELHO – Lucas 1,1-4; 4,14-21

 

            A liturgia deste domingo traz a Palavra de Deus como centralidade da vida da Igreja. Em 2019 o papa Francisco instituiu o terceiro domingo do tempo comum como Domingo da Palavra de Deus. Um dia especial de refletirmos a importância das Sagradas Escrituras em nossa vida, na vida da comunidade de fé. Na Bíblia está contida a Palavra de Deus, esse não é um livro de história, de biologia, de geografia, de filosifia, não é uma doutrina abstrata, mas pela fé sabemos que “a Palavra de Deus é viva e eficaz, é cortante e penetrante como espada de dois gumes” (cf. Hb 4, 12). Essa Palavra gera conversão e libertação, gera nova vida e santidade, porque ela é a Boa Nova de Salvação, que se fez Palavra encarnada.

            Na primeira leitura Jerusalém, ao retornar do exílio na Babilônia, faz festa ao celebrar a Palavra, ao redor da Palavra (Lei) se fortalecem ouvindo Esdras e Neemias, para continuarem o caminho sem desanimarem. “Todo o povo ouvia atentamente a Leitura do livro da Lei”. Temos nesse momento uma verdadeira “festa da Palavra” que enche o coração do povo. A Palavra de Deus faz questionar, para viver um caminho novo, de conversão e de vida nova. Ao ouvirmos a Palavra ela gera em nós questionamentos, mas também alegria para que possamos ser peregrinos de Esperança, não guardando essa Palavra para nós, mas vivendo essa Palavra em comunidade.

            No Evangelho Jesus ATUALIZA a Palavra, instaurando o “Jubileu” o tempo da graça e da libertação. Lucas se coloca como um historiador, tratando de investigar os fatos e escrever sobre os mesmos ao grande Teófilo, ou seja, ao amigo de Deus, a partir da escuta das testemunhas. Tudo isso para embasar a fé da Igreja. O Evangelho não é uma fábula, mas um testemunho de fé autêntico. Por isso, é preciso entender que a Palavra de Deus é Palavra escrita, mas também ela extrapola o escrito, pois não somos uma religião do Livro, da letra, a Palavra de Deus é viva, viva na história do povo, viva na história da Igreja e da Tradição. Como nos diz o evangelista João: “Ora, Jesus fez ainda muitas outras coisas. Se todas elas fossem escritas uma por uma, creio que nem o mundo inteiro poderia conter os livros a serem escritos” (Jo 21,25). A Palavra de Deus diz respeito a Revelação Divina contida na Bíblia e na Tradição, como nos diz o documento conciliar Dei Verbum. “A Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura constituem um só sagrado depósito da Palavra de Deus confiado à Igreja” (DV 10).

            Na Segunda Leitura a comunidade Igreja, “corpo místico de Cristo” é enviada como comunidade missionária-evangelizadora. “Vós, todos juntos, sois o Corpo de Cristo e, individualmente, sois membros deste Corpo”. A Igreja nasce da Palavra e é enviada em nome da Palavra. Nós não cremos em uma Filosofia de vida, ideologia ou fábula, cremos em uma Pessoa, e professamos esta fé na comunidade Igreja. Por isso, a Palavra deve ser o alimento cotidiano de cada cristão. Essa Palavra é a Esperança que nos impulsiona a seguir o caminho com alegria. Que Deus nos ajude, por meio de Sua Palavra a crescermos no conhecimento da Verdade, porque “só se ama aquilo que se conhece” (Santo Agostinho).

 

Pe Wesley Pires dos Santos

Pároco da Paróquia Cristo Rei

Ouro Preto MG


26 de Janeiro de 2025

sábado, 18 de janeiro de 2025

A FESTA DA VIDA, A FESTA DO AMOR!

 

II DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO C

1ª Leitura Is 62,1-5

Sl 95

2ª Leitura 1 Cor 12,4-11

Evangelho Jo 2, 1-11.



Celebramos o Tempo Comum, vale ressaltar, que esse não é um tempo menos importante do que os outros. Pelo contrário, é um tempo de suma importância. Primeiro, para reconhecermos que Deus não age só em coisas fantásticas ou miraculosas, mas age com maestria nas pequenas coisas de cada dia, fazendo do ordinário, o extraordinário. Segundo, porque nesse tempo acompanharemos Jesus em sua vida pública, em seu ministério, curando e salvando a todos sem exceção. A cor usada nesse tempo, é o VERDE. Verde da Esperança, mas a esperança não é um pensamento positivo, a Esperança é uma Pessoa, é Jesus Cristo, que não nos decepciona jamais. A Liturgia deste segundo domingo do tempo Comum nos apresenta a festa do amor e da alegria celebrada nas Bodas de Caná. Na Igreja Antiga, a Festa da Epifania, a Festa do Batismo do Senhor e a festa das Bodas de Caná era celebrada numa única festa. Por isso, a liturgia de hoje ainda está em sintonia com o Natal. Com nos diz o cardeal Tolentino de Mendonça, nosso Deus é “Um Deus que dança”, nos convida sempre a festejar, a experimentar a alegria verdadeira. Hoje contemplamos o início dos Sinais de Jesus, Ele o realizou em Caná da Galileia e manifestou a sua Glória, e seus discípulos creram nele (cf. Jo 2,11). A Liturgia nos apresenta uma grande festa de casamento, desde a primeira leitura o profeta Isaías nos mostra Jerusalém, Sião, envolvida pelo amor e pelo cuidado de Deus. Num contexto de volta do exílio, depois do edito de Ciro, Jerusalém está sendo reconstruída. Ela também é desposada, chamada pelo novo nome, ela é a alegria de Deus. Deus nunca desanimou do seu povo, mesmo diante das infidelidades. Por isso, a festa de casamento do quarto evangelho nos remete a uma Aliança muito maior. De forma proposital o autor sagrado não diz o nome dos noivos. O noivo é Deus e a noiva que é desposada em casamento é a Igreja. Deus envia o seu único Filho para morrer por nossa salvação e sela com a humanidade a Nova e Eterna Aliança de Amor. O vinho é sinal messiânico, da plenitude dos tempos, a hora é sinal da Eucaristia, é sinal da Entrega, do sacrifício da Cruz, Maria é a nova Eva, é a Mulher, símbolo da Igreja, símbolo da humanidade, com quem Deus realiza a aliança. Como Mulher, Maria torna-se Mãe da Igreja, Mãe de todos os viventes nos apontando seu Filho Jesus. As 6 talhas colocadas para a purificação é símbolo da antiga aliança, incompleta. A água é símbolo da nossa humanidade, que ao ser tocada pelo amor de Deus é santificada, divinizada, se transforma em verdadeira alegria.  Só experimentaremos o Vinho Novo da alegria concedido por Jesus na comunidade, na Igreja, colocando nossos dons a serviço, superando o egoísmo e o autorreferencialismo. Sabendo que é o mesmo e único Espírito que age em tudo e em todos gerando unidade e comunhão. Para isso, é preciso escutar a Mãe que diz: “Fazei o que Ele vos disser”. Ai experimentaremos o encanto novo, a Esperança que nos salva e cantaremos o cântico novo da nova e eterna aliança, comtemplando os prodígios de Deus entre os povos. Caná é o início da Igreja, povo da Aliança, comunidade da fé e da comunhão, peregrinos de Esperança.


Pe Wesley Pires dos Santos

Pároco da Paróquia Cristo Rei

Ouro Preto MG


18 de Janeiro de 2025