terça-feira, 24 de dezembro de 2019

O GRANDE MISTÉRIO DO NATAL: NA SIMPLICIDADE DEUS-AMOR SE ENCARNA



“Eu vos anuncio uma grande alegria, que o será para todo o povo: Hoje na cidade de Davi, nasceu para vós um Salvador, que é o Cristo Senhor.” (Lc 2, 10-11). Eis o grande anúncio do Anjo neste dia de Natal, aos pastores de Belém e também a toda a humanidade. Deus se manifesta não em algo extraordinário, em algo mágico, mas na simplicidade do presépio. Do Presépio até a Cruz, Deus é esvaziamento de si, é fracasso, é simplicidade, é miséria. Ele usa da fraqueza para confundir os fortes e poderosos deste mundo. Deus é EMANUEL, não é Deus contra-nós, não é Deus sem-nós; Deus é Deus-conosco. O Príncipe da Paz, o Conselheiro de Deus é totalmente Doação, porque é totalmente Amor. Neste dia podemos nos perguntar: o que este “admirabile signum” (admirável sinal) pode nos ensinar, para que nossa vida seja transformada numa vida verdadeiramente em Deus, diante de um mundo tão conturbado e barulhento?
O acontecimento do Natal marca de forma decisiva toda a história da humanidade. Aos olhos humanos não tem nada de sobrenatural, um casal que fora de seu lar e não encontrando hospedagem para dar a luz, acabam numa pequena gruta fria, envoltos na solidão da noite, o menino nasce no meio do coxo onde se alimentavam os animais, e é aquecido pelos mesmos animais que ali estavam como companhias da noite. No entanto, enquanto isso, o Silêncio de Deus vai tecendo e escrevendo a história da Salvação. Desde os antigos profetas este menino já havia sido predito, os pais já o esperava com amor, sua chegada fora já preparada e anunciada pelo Batista, é Jesus que neste dia vem ao nosso encontro ser o Deus-Salvador, Deus-Conosco, o Emanuel, a Raiz de Jessé.
Enquanto todos esperavam um Messias Poderoso, aos olhos do mundo, nascido nos palácios, chefe de exércitos, implementador de guerras de libertação contra Roma. Deus visita não Jerusalém, o centro do judaísmo, mas uma pequena aldeia da Galiléia chamada Nazaré, que nem mesmo antes havia sido citada nas Escrituras, visita uma simples jovem, Maria. O grande anúncio da noite santa, ao invés de chegar em primeira mão aos doutores da Lei, aos sábios e entendidos, chega por meio dos Anjos aos simples Pastores de Belém, estes foram os primeiros convidados para a grande festa de Deus, estes foram os convidados para contemplarem o Menino que jaz na Manjedoura. O Menino que deveria nascer em berço-de-ouro, nos palácios, nasce numa lapinha, num lugar frio, numa estrebaria, aquecido pelos animais. Eis o grande esvaziamento de um Deus que se faz homem e que assume nossa condição na maior simplicidade do presépio.
            Em um mundo centrado em si mesmo, no qual tudo gira em torno da idolatria do dinheiro. Onde há o império do individualismo, o enriquecimento de poucos e a fome e o desprezo de muitos. Há pessoas que vivem tão sozinhas, no escondimento do mundo e no medo de si mesmas, porque perderam o sentido de tudo e até de viver. Quando muitos jovens que começam agora a vida e já se entremeiam para uma sexualidade desgregada, uma vida nas drogas. Percebemos a sociedade tão distante de si mesma e de Deus, clama hoje por Amor, porque temos uma sociedade moderna carente de Amor porque se distanciou do grande ensinamento da Noite de Natal.
Diante do Natal Pagão celebrado por muitos, o Natal que idolatra o Dinheiro e exclui as pessoas. O povo que anda nas trevas hoje pode contemplar a grande Luz que chega no Silêncio e bate a porta de cada coração pedindo hospedagem. Nosso Deus quer nos mostrar que não exclui ninguém do seu Amor, mas que os que o quiserem acolher, precisam antes de tudo ter um coração humilde e desapegado de si mesmo para acolher o maior Amor que podemos ter, o Amor que dá sentido a nossa vida. Eis o admirável sinal demonstrado na humildade do Presépio, do qual todos nós precisamos aprender e viver para transformar o mundo ferido em um mundo de amor. O mistério que hoje celebramos também nos dá toda força para sermos transformados neste Natal e como cristãos da esperança e da alegria mostrar ao mundo que o Deus-Menino quer habitar em cada coração, quer fazer morada na manjedoura de cada família, porque simplesmente nos ama e se esvazia para vir até nós.
Hoje ao contemplar o Menino-Deus, seus Pais: Maria e José, os Reis Magos e Pastores, todos nos unimos aos anjos do céu para cantar a Deus um tremendo hino de Louvor e Gratidão. “Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens de boa vontade”. Porque Deus não se esquece de nós, Ele é conosco. Por isso, este dia é um dia feliz para toda a humanidade, porque nunca desanimamos, porque mesmo em meio às dificuldades caminhamos na Esperança. Cremos que este Mistério da Encarnação acontece todo dia, em cada Santa Missa, em cada momento em que um cristão e a comunidade ouve a Palavra de Deus, em cada gesto de perdão e de amor. Sempre é Ele, Jesus Cristo que vem ao nosso encontro pelos pequenos sinais manifestando a nós o seu imenso Amor e o seu. Feliz e Santo Natal a todos.


Wesley Pires dos Santos

quinta-feira, 31 de outubro de 2019

MINHA RUA SÃO MIGUEL...


            

              Hoje decidi retornar o pensamento há alguns anos atrás. De fato, fazer memória lá onde tudo começou. Isso mesmo! Foi naquela pequena rua, uma das mais antigas de minha terrinha Senador Firmino, uma das que primeiro levou o progresso à nossa Conceição do Turvo, fazendo ligação para sair em Dores do Turvo. A rua mais conhecida, não tem erro para ninguém! Começa com aquele que leva a balança nas mãos, nosso querido São Miguel,símbolo do juízo final, e termina já com a condenação que é a antiga Cadeia. Por isso, Rua São Miguel, ou também conhecida como Rua da Cadeia ou da Sorveteria.
            Sei que nem todos sentirão a mesma coisa que eu sinto por ela, mas para mim contar um pouco da minha rua, antiga e sempre nova, das pedras e agora caminhando para o asfalto, é uma imensa honra, porque nesta rua passa a história de boa parte dos melhores anos de minha vida até então. Não só o espaço físico, mas principalmente pessoas, que marcaram e marcam a tão famosa Rua São Miguel. Esta rua assombrada porque abrigou, há anos, o antigo cemitério; e alegre, pois me viu crescer, me viu ir embora (este momento foi surpreendente, quando estava indo para o Seminário a rua quase toda, em frente de casa, parou para me saudar e se despedir, todos com olhos empapuçados desejando bom caminho), me vê alegrar por sempre retornar.
            Suponho que nossa rua recebe o nome e a grande proteção de São Miguel porque, conforme relatos, a antiga capela do primeiro cemitério da cidade tinha a imagem de São Miguel Arcanjo, que hoje se encontra no Santuário de Nossa Senhora da Conceição e este Cemitério era dedicado a ele. Podemos dizer que neste lugar habita sepultados alguns daqueles que foram os sustentáculos de nosso torrão. Por isso, ao passar pela Rua São Miguel lembremos que ali também começa nossa história, nunca esqueçamos de nossos antepassados firminenses. Ainda mais, a rua que dá para defronte do Santuário quer mostrar que nossa terra é sempre protegida e amparada pelo grande príncipe da Milícia Celeste, glorioso São Miguel Arcanjo, e está sob o patrocínio constante da Senhora e Virgem da Conceição, uma vez que o Santuário majestoso sempre está nos convidando à oração. Desta rua saiu em 15 de agosto de 1893, da antiga casa de Manoel Eugenio de Lacerda a procissão levando o quadro com a pintura do padre Jacinto Trombert, para homenageá-lo como benemérito sacerdote. Também de nossa rua saiu o povo em festa no ano de 1947 saudando em mutirão a posse do primeiro prefeito eleito Sogê (Geraldo de Oliveira Fernandes). Como podemos ver parte importante de nossa história passa pela Rua São Miguel.
            Com alegria e gratidão, ponho-me agora a tecer elogios aos grandes heróis que habitaram e habitam minha rua. Bem longe, ao avistá-la, já se impõe o antigo casarão onde habitou o saudoso farmacêutico Mário Bezerra e hoje mora a piedosa senhora sua esposa-viúva, dona Lurdinha. Logo ao lado, fazendo “bico” com a rua São Miguel, está a casa do grande político, homem de grande honra e história do município, o senhor Wilson Fernandes, e ao olhar para esta casa onde muitos enchem a varanda no dia 15 de agosto, não mais podemos ver aquele rosto de fé de dona Silvinha, mas que permanecerá vivo em nossa memória sempre nos chamando para as Novenas de Natal. Mais adiante, andando por nossa rua, podemos encontrar com ele sempre a caminhar e a lutar, Chico Pena, nosso amigo, homem de fé e de garra. Mais adiante ainda vem-nos à memória o Tarcísio do Correio, este já falecido e sua esposa, Maria do Telefone, ambos receberam o apelido pelos lugares onde trabalharam. Mais adiante, tio Joel d’Água, residente onde primeiro meus avós Geraldo Mariano e Maria de Paiva adquiriram, para morar mais próximos à Igreja. Depois, nunca me esquecerei da Ana do Correio, que também próximo a nós morou e hoje mora em Mercês.
Caminhando mais um pouco, encontramos tia Raquel do bolo e dos doces, que agora enfeita é vela para os sacramentos. Depois também estão eles sempre animados Pedro Nogueira e dona Marli. Ao lado está também o Gaudino, sempre na janela nos assistindo. Não podia me esquecer do tio Albertino do “Buteco” e da Fabrícia que está sempre a nos alegrar, viaja o dia inteiro no carro parado. Minha mãe, dona Isaura Mariano,sempre a andar pela rua e fazendo suas arrumações,e meu pai, Ciro Ambrósio, com seu charutão de pito. Mais adiante está Efigênia, que cuida sempre do seu quintal, e com seu jeito singelo nos acolhe com um sorriso. Andando mais um pouco lembraremos sempre das “ititas...”, Dona Quitita e Pitita, que já abrilhantaram nossa rua, e agora estão no céu. Pitita era antiga cabeleireira, possivelmente a primeira da cidade e Quitita, mulher de fé e também trabalhadeira.
Já à frente, o famoso “Escadão”, que liga São Miguel à Santa Cruz. Este nunca ninguém vai se esquecer, pois a história de Senador passa lá: são as brincadeiras e os antigos namoricos. Na sua esquina tínhamos a antiga residência das “Marques”, onde por último morou dona Nenega. Esta me encantava, aprendi a gostar da Rádio Aparecida, porque o seu rádio, às 9horas, sempre anunciava para a rua a Missa do Santuário Nacional e as vozes do Padre Vítor Coelho. Ao seu lado está minha antiga professora de Geografia, Silvinha Valente. Em frente tinha ela, Dona Josefina Benedito, antiga freira do SacreCuer de Marry, que muito me ensinou nas “Escolhinhas de Reza” que acontecia aos sábados. Não poderemos nunca esquecer que nesta rua está ele, o primeiro fotógrafo da cidade, o grande Ormeu Photos. Andando mais um pouco está Sôtero e Licinha, ali muitos passam para comprar da água ardente, ali nasceu a internet firminense Netstar. Logo após está o Tarcísio Pastor, antigo guarda do banco do Brasil, em seu antigo casarão. Ali, também tinha um consultório de ondotologia, morria de medo de passar perto. Porque, por mais que nos descem balões de mãozinhas, deve ser algum trauma de dentista. Logo em frente nunca esquecerei nossa grande mestra de fé e de singeleza do canto, dona Lúcia Benedito, que sempre me apoiou e incentivou a cantar e a rezar. Mais à frente, minha antiga professora de português, Maria José Moreira, quanta coisa me ensinou.  Também por perto está dona Fátima e o “Sô”Julim, ali ia para ensaiar os cantos para o desagravo ao Sagrado Coração de Jesus. Ao seu lado, dona Isa Carneiro, foi minha catequista. Logo em frente está nossa amiga Célia Moreira, sempre sorridente passa e logo damos altas risadas. Já encerrando nossa rua, está, quase caindo, nossa antiga “Cadeinha”, de onde meu avô foi delegado, onde por muitos anos abrigou os presidiários da região. Por fim, para concluir com chave de ouro, ainda temos o antigo prefeito com sua torre exuberante, é ele, Achiles Benedito.
            Nossa rua é assim, de heróis ao extremo, ainda pra completar temos também os que hoje desejam ser heróis para continuar abrilhantando nossa história e o futuro de nossa terra firminense e de nossa nação são eles: arquitetos, químicos, psicólogas, médica, agrônoma, motoristas, engenheiros, professora, seminarista. Quanta história ali passamos: era pique-pega, pique-esconde, queimadas até altas horas da noite, escolhinha na garagem e, para fechar a rodagem, ainda tinham as famosas “missinhas”. Minha mãe ficava doida correndo de um lado ao outro atrás da gente, brincando também; meu pai, assistindo seu jornal e sua novela, isso quando não estava na varanda a nos “bizoiar” com o charutão de papel e seu fumo de rolo. A escolhinha na garagem era uma muvuca só, mas não dava confusão. Nesta rua também sempre passava pelas manhãs nosso querido Sô Fizinho do leite, era a hora mais esperada, deixávamos os estudos para passear de charrete pela cidade.
Nossa rua vivia sempre cheia, parece que vinham crianças da cidade toda, não havia sossego. Os adultos sempre reclamavam, mas hoje é um silêncio mais pacato, só ouvindo os barulhos dos carros. Quanta falta sentirão, em tempos de tanta confusão, porque antes a alegria não dava espaço, os gritos aos extremos de nós crianças eram o grande “arco-íris” que fazia ali resplandecer. Toda noite era festa, começávamos com a queimada no meio da rua, atrapalhando até o trânsito, que na época também já não era tanto. Depois, logo passávamos aos piques, à polícia-ladrão e, muitas vezes, encerrávamos com a “missinha”. O mega-fone de tubos de linha das janelas do casario Mariano sempre anunciava morte, horários de missas, até a greve dos professores, como uma vez fui solicitado. Ah, e como se esquecer, tinha também hora cívica, canto do hino nacional e hasteamento da bandeira no 7 de setembro, além de sair dali também as famosas “bênçãos”. Nós, crianças, com as jovens de então, fazíamos a Rua São Miguel virar um verdadeiro parque de diversão.
Foi ali que amizades cresceram e se firmaram, alguns hoje distantes, mas sempre conectados por saudosa lembrança. Nunca esqueceremos nossa era sem internet, porque com isso aproveitamos para brincar, criar laços e raízes e muito mais para aprender a amar nossa história e nossa terrinha, esses são nossos grandes valores. Eh São Miguel, no quintal de dona Isaura, minha mãe, no antigo cemitério, está enterrado meu umbigo.

Wesley Pires dos Santos
2º Ano de Teologia


                                                 
Posse do 1º Prefeito Eleito, Geraldo de Oliveira Fernandes (Sogê) - Esquina da Rua São Miguel com a Praça Raimundo Carneiro - 1947


Rua São Miguel - Centro - década de 1950.

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

MENSAGEM POR OCASIÃO DO 1º ANIVERSÁRIO SACERDOTAL DO PE DANIEL FERNANDES


 
“Quando aurora da vida feliz surgiu, um jovem deixou seu lar e para o além partiu, em casa mamãe saudosa sozinha orava e ele feliz e alegre as almas guiava. Sacerdote feliz o teu lema é de luz, teu mister é nobre e santo, teu viver é no altar. No altar como um belo lírio de paz reluz, só vive para servir e amar Jesus. E quando na hóstia pura ele se oferece a Deus pelas almas que nunca esquece”.

Padre Daniel Fernandes Moreira, queremos juntos neste dia ao redor da Mesa da Palavra e da Eucaristia rendermos hinos de ação de graças por sua vida e por seu Sim dado a Deus nestas terras firminenses há um ano. Alegria maior para nós seus conterrâneos, que podemos incluir o seu nome no número dos mais de 20 sacerdotes que deixaram nossa terra para o serviço de Deus e de sua Igreja. Muitos dos que estão aqui te viram crescer, te acompanharam no caminho da fé, mais ainda, alguns foram os que te ajudaram neste caminho, sendo catequistas, vicentinos e de outras pastorais. Acompanhamos os seus passos também durante o discernimento e a resposta da vocação. Um rapaz de uma fé viva que desde menino deixava seu lar para visitar especialmente os mais enfermos e necessitados. Agora um homem de Deus que sai a pastorear, que sai a profetizar, que sai a anunciar o nome de Cristo com a própria vida doada. Nesta terra que exala fé, que está sob o Manto sagrado da Senhora da Conceição do Turvo e sob o grande exemplo de sacerdote que foi Padre Jacinto Teófilo Trombert, queremos suplicar a estes a intercessão junto de Deus para que Ele derrame abundantes graças sobre sua vida e ministério. Ser Sacerdote é ser homem para o outro, é constantemente esvaziar-se de si mesmo para se encher deste totalmente Outro que é Deus, para depois se dedicar ao serviço do seu povo santo. Para isso, como o senhor bem sabe exigiu e exige renúncias, mas acima de tudo, temos a certeza de que Deus está conosco a nos guiar e quando fazemos por Amor, nos sentimos realizados. Por isso, pedimos também a sua constante felicidade no Ministério. Continue sendo este padre a irradiar a Alegria que vem de Deus em um mundo tão sem esperança, continue a espalhar o bem onde há o mal, continue a espalhar o amor onde há sofrimento, continue a espalhar vida onde há morte, continue a espalhar o seu sorriso para que o povo cristão nunca desanime mesmo diante das limitações da vida, continue espalhando a esperança, mostrando que nossa vida se encerra em Deus unicamente e por isso, somos convocados a santidade e a transformar o mundo com o amor. Santa Madre Teresa de Calcutá dá algumas sugestões importantes a um consagrado, e gostaria de compartilhar com o senhor neste dia, para que continue renovando o seu Sim. Primeiro: ser fiel ao Sim dado, contando sempre com a ajuda fidelíssima da Santíssima Virgem Maria, é ela que sempre acompanha os vocacionados do Pai. Segundo: tornar-se pobre, no sentido de se esvaziar cada dia mais de nosso “eu” para deixar com que Cristo seja Tudo em nós. “Não é quanto realmente nós ‘temos’ para dar, mas quão vazios nós estamos, a fim de podermos recebê-Lo por inteiro em nossa vida e de O deixarmos viver a vida Dele em nós. Sigamos o que Madre Teresa diz: “esta é a pobreza de Jesus. O senhor e eu devemos permiti-Lhe viver em nós e através de nós no mundo”. Por fim, Padre Daniel, tenha sempre a certeza, principalmente quando alguma tempestade vier balançar o seu “barquinho”, Jesus está neste barco e Ele é o guia, é Ele que te convidou para apascentar a ovelhas que é Dele e Ele sempre te ajudará neste serviço. Além disso, nosso povo firminense reza constantemente pelos vocacionados e filhos de nossa terra e são estas orações que sustentarão sempre o ministério do senhor. Parabéns pelo seu Sim, por sua vida doada. Muitas e muitas felicidades em seu ministério sacerdotal. Estes são os votos de todos os firminenses!


- Mensagem ao Pe Daniel –
1º Aniversário de Ordenação Sacerdotal

13 de Outubro de 2019 


sexta-feira, 31 de maio de 2019

O GIGANTESCO SEGREDO DA ALEGRIA


            


             A vida religiosa contemplativa, presente nos Mosteiros, é, de fato, o sustento do mundo e da Igreja. Certa vez um determinado autor disse: “Uma pequena comunidade de monjas anciãs, que, humanamente falando, está no fim, morrendo, consola mais o mundo do que uma grande comunidade florescente que pensa que é preciosa e fecunda pelo que faz e expressa, e por como faz e expressa o que faz”. Partindo dessa premissa, vamos comparar o mundo corrido e acelerado de hoje, com a vida religiosa contemplativa.

            Neste contexto secularizado, grandes preocupações pelo desempenho rápido e produtivo, bem como uma vida profissional eficaz, têm ganhado destaque. Por conseguinte, cada vez mais, se tem aumentado as doenças psicológicas como a depressão, a síndrome do pânico, síndrome de burnout. A meditação, o silêncio, a leitura já não têm espaço para o ser humano “evoluído”, da produção, da cultura tecnocrática e pragmática. Isso tem acontecido por que as pessoas não se dão conta de si, da sua real identidade, e, mais ainda, não estão tendo tempo para os seus e nem para si mesmas. Com isso, pensa-se mais no lucro, no profissionalismo, no desempenho eficaz e esquece-se do cuidado consigo e com os outros. 
            O mundo evolui rapidamente. Novos meios e objetos tecnológicos estão substituindo o trabalho humano, não havendo necessidade mais de mão-de-obra em tantos serviços.  Tem-se, no entanto, uma grande ilusão de que esses meios são os responsáveis por levar o homem à felicidade. Há uma felicidade extremamente paradoxal, no qual, para ser feliz, segundo os parâmetros mundanos, deve-se consumir cada vez mais e mais. Todavia, o consumo não colabora na completude desse coração tão necessitado de sentido para sua vida.
            Os Shoppings se tornaram ironicamente “Casas de Retiro” no mundo capitalista, desejando sugar cada vez mais o ser humano de si mesmo. Ademais, são um lugares selecionadores, nos quais só entra quem tem condições para comprar. Ali, pessoas conseguem passar o dia todo passeando pelas lojas, comprando, indo ao cinema, alimentando-se, uma verdadeira cidade comercial. Não se veem relógios, para não induzir a pensar no tempo cronológico e nem pensarem no mundo que continua a girar fora. Uma verdadeira fuga da realidade. Além disso, mostra-se nesses lugares o ideal da felicidade: qual a melhor roupa que se deve comprar, qual o alimento, qual o ideal de aparelhos, e por aí vai. O corre-corre continua, as preocupações e os problemas permanecem existentes, estão sendo camuflados, jogados para “debaixo do tapete”.
            Ao contrário disso, no meio de uma grande metrópole, na capital mineira, em meio ao barulho dos carros e das pessoas, eis que me deparei com um lugar diferente, do qual desejo dar testemunho. Lugar do Silêncio, da Meditação, da Contemplação e do Trabalho. Em plena modernidade, mais de 40 mulheres vivem em uma comunidade monástica, no Mosteiro Nossa Senhora das Graças, conforme a Regra de São Bento, escrita no século VI. De fato, um verdadeiro testemunho de vida para todos nós que vivemos nesta correria diária. Essas religiosas, que a partir do encontro com o Ressuscitado, foram capazes de perceber o que é o essencial para vida. Perceberam que a verdadeira felicidade não são as compras, o poder, as honras, as riquezas, o prestígio, o muito fazer, mas é o viver na simplicidade, no despojamento de si. Gastam seu tempo rezando nas diversas horas o Ofício Divino santificando cada momento do dia e intercedendo pelo mundo, também em boas leituras, em meditações espirituais, e, também, no trabalho diário. Percebem os sinais de Deus nas pequenas coisas. Uma vida vivida na humildade, no reconhecer de que não somos capazes de tudo, e, muito menos, que devemos ser perfeitos para fazer tudo com eficiência, acumulando riquezas.
           Vale a pena ressaltar, que o monge não é aquele que foge do mundo e nem pode ser, pois como bem disse Thomas Merton, “o monge tem de permanecer real, e só o poderá ser mantendo-se em contato com a realidade”. Por isso, diante das incongruências do mundo são pessoas que conseguiram encontrar-se com a verdadeira felicidade e possuem a verdadeira liberdade.
            Percebi no sorriso de cada irmã, um reflexo de pessoas que, de fato, encontraram a alegria, a razão de ser e estar neste mundo, mesmo diante dos desafios. Pessoas que reconheceram o potencial único que se tem dentro de cada um. Nós que estamos aqui do lado de fora dos muros do Mosteiro, temos também um gigantesco segredo da alegria dentro de nós, como estas mulheres de Deus. Por isso, não podemos deixar com que o mundanismo nos roube o essencial de se viver, nos roube a nós mesmos. Precisamos parar um pouco, fazer silêncio, nos ouvir, fazer uma boa leitura que nos engrandeça, uma meditação e até mesmo relaxar de vez em quando para que não percamos o sentido de viver e muito menos o essencial. Já dizia Saint Exupéry na obra “O Pequeno Príncipe” que “o essencial é invisível aos olhos, mas visível ao coração”. De tal maneira, se não ficarmos atentos, não adentrarmos o nosso ser mais profundo, nunca encontraremos o essencial para se viver, mas, ao contrário, buscaremos cada vez mais o que é supérfluo.
            O grande diferencial dessas irmãs pode ser observado por meio da vida de oração e da liberdade interior que buscam viver cotidianamente. Por isso, é um grande escândalo para o mundo. Descobriram o essencial da vida. Por isso, termino exortando: “não temas o essencial!” (Dom José Tolentino de Mendonça), pois, dentro de cada um há o gigantesco segredo da alegria.




Wesley Pires dos Santos
Seminarista da Arquidiocese de Mariana


Mosteiro Nossa Senhora das Graças - Belo Horizonte - MG.

Monjas Beneditinas


segunda-feira, 13 de maio de 2019

NOSSA SENHORA, MULHER DA ALEGRIA!


Quem és tu ó Maria? És tu ó Mãe que celebramos neste mês de maio, mês de alegria, de lindos cantos, Mês de Maria. Maria, mulher singular, mulher do povo, pobre como aqueles que se esvaziam de si mesmos para se encherem e enriquecerem unicamente do próprio Deus. Mãe do povo, Mãe de um mundo novo, ó Mãe de Jesus. Mãe da Igreja, mãe da Esperança e Senhora da Luz. Maria de vários títulos, hoje a congratulamos como a Mãe da Alegria, aquela que com seu Filho também se irradia transmitindo ao mundo a alegria de uma vida nova que ressurge na cruz. A alegria nasce na pequenina Nazaré quando o Anjo a saúda “Ave, ó cheia de graça” (Lc 1,28). És tu ó Maria, a plena de alegria. Aquela que nesta pequenina vila, recebeu de Deus uma grande Missão. Foste escolhida entre todas deste mundo, para ser instrumento da obra da salvação.
            Quem és tu ó Maria? Mulher de garra, conhecedora dos nossos desafios, mulher trabalhadora, sempre lutando em meio às dificuldades, no silêncio diário, nos pequenos trabalhos foste de Deus a grande aprendiz. Mulher do lar e educadora da fé dai-nos a graça de, nesta escola, nos matricularmos constantemente. Mesmo diante dos desafios e dos temores, a alegria esteve sempre presente em ti, encorajando-a a sair de si para servir, assim como fez partindo para a casa de sua prima Santa Izabel. Mulher do serviço, teu Sim transformou nosso mundo e nossa fé.
            Quem és tu ó Maria? És a Mãe da Alegria, que nunca perdeu a esperança nas promessas do Deus de Israel. Cumprindo até o fim a Missão de Mãe. Acompanhou seu Filho Jesus desde o nascimento até a paixão e morte. Hoje, O acompanha na Ressurreição alcançando com Ele sua Assunção. No céu continua a interceder por todos nós seus Filhos entregues a ti no alto da Cruz. Mulher da Esperança que continua a mostrar ao mundo sofrido e desanimado que a resposta para suas crises é unicamente o seu Filho amado. Repete constantemente a nós: “Fazei tudo o que Ele vos disser!” (Jo 2,5). Assim, nos mostra que nossa vida é eterna e que aqui estamos como peregrinos, pois nossa meta é o céu.
            Eis-nos diante de ti, ó Mãe da Alegria, neste mês de louvores em que a ti ofertamos lindos gestos de amores por meio de tantas flores. Queremos como discípulos sermos também, neste mundo, homens da alegria e da esperança. Queremos levar ao mundo o teu Filho Jesus. Sabemos que para alcançarmos tão grande felicidade obtida pela Ressurreição precisamos igualmente passar pelo caminho da Paixão. Neste caminho contemplamos igualmente as diversas alegrias que a Senhora tivestes nesta vida. Alegria que somente aqueles que se entregam ao projeto de Deus podem alcançar. “Onde há um consagrado não pode haver tristeza”. Aquele que diz Sim a Deus, não deixa em sua vida espaço para lamúrias, desânimos ou tristezas, mas deixam Deus preencher sua vida com a “água viva” da verdadeira alegria e, igualmente, a distribui aos outros para que também experimentem tão sublime graça.
            Dai-nos a graça, ó Mãe, de sermos homens novos, instrumentos da Alegria para um mundo novo, para um mundo tão marcado pela morte, pela violência, pela dor, pela pobreza. Sejamos nós sinais do Ressuscitado no mundo. Que nossa entrega seja autêntica para que Nosso Senhor seja, de fato, o centro e a razão de ser da vida de nossas comunidades cristãs.
            Maria do Sim, Senhora da Alegria, Maria do povo, Senhora do mundo novo, Rosa mais bela e esplendorosa que pode haver. Mãe das vocações cuidai de todos nós vossos filhos. Aceitais estas flores que a ti ofertamos com louvores. Amém!

Wesley Pires dos Santos
Seminarista da Arquidiocese de Mariana


Mês de Maio - SENADOR FIRMINO - MG.



domingo, 10 de março de 2019

QUE VIDA VALE A PENA SER VIVIDA?



      Basta afastarmo-nos um pouquinho do corre-corre do mundo e então conseguiremos nos deparar conosco mesmo e pensaremos qual o sentido que me impulsiona a viver. A Quaresma é um tempo propício em que a Igreja nos convida a mergulharmos no mais íntimo do nosso ser para nos reconhecermos não mais santos ou mais perfeitos do que os outros, mas reconhecermo-nos humanos. Já parou para pensar quantas e quantas vezes você deixou de viver de fato sua humanidade? Quantas vezes o “outro” tantas vezes nos condiciona e nos ajuda a fugir de nós mesmos? Quanto tempo você tira para pensar em você, em seus desejos, em suas necessidades? Quase nada não é verdade. Justamente por isso, acabamos por nos rebaixar, por deixar-se guiar por nossas mazelas e por nossos instintos ou até mesmos nos extasiamos com calmantes, drogas, uma sexualidade desregrada. Por quê? Porque queremos fugir de nós mesmos, fugir de nossa humanidade, para não reconhecer que nós não somos tudo, mas que somos também limitados. O mundo nos vê como robozinhos, máquinas para consumir ou para produzir. Mas não, nós somos humanos, somos sentimentais, e também racionais, podemos pensar em nossa condição.
Como diria o filósofo francês Blaise Pascal: “Somos grandeza, mas também miséria”. Enquanto não olharmos para dentro de nós mesmos, para buscar o Totalmente Outro (Deus) que habita o mais profundo do nosso ser, passaremos a vida toda relutando com a gente mesmo e fugiremos de reconhecer quem verdadeiramente somos. Ficaremos a vida toda buscando apenas coisas fúteis para saciar o profundo vazio que há dentro de nós e não nos preencheremos de fato com este Totalmente Outro, único capaz de preencher o nosso vazio existencial. Porque somente o Cristo é o Homem Pleno, que viveu plenamente e perfeitamente sua humanidade, não fugiu de reconhecer o seu verdadeiro ser. Pelo contrário, desde o início de sua Missão conhecia sua real identidade de Filho de Deus. Deixemo-nos guiar por Ele.
Há alguns anos após a festa do Carnaval tenho pensado muito e me questionado mais ainda. O que realmente estamos festejando nesta festa? Será a vida? Mas que vida é esta que se festeja embriagando o máximo que se pode, chegando ao ponto de não se lembrar de nada que viveu na noite passada do Carnaval, não se lembrando nem mesmo o que bebeu? Que vida é esta que está sendo festejada, após usar vários tipos de drogas e até estado em êxtase não se lembrado nem onde está, nem que é? Que vida é esta que está sendo festejada, que após ficar com várias pessoas e até mesmo transar com várias, não se sentiu amado (a) por nenhuma e nem mesmo transmitiu amor, pelo contrário só se usou ou foi usado como objeto de satisfação de prazer? Que vida é esta que está sendo festejada, que bebe e come a vontade, depois sai dançando e rebolando e se expondo ao ridículo quase nu, despido às vezes de sua real dignidade atrás de um carro com músicas que te chama de “cachorra” e de tantos nomes que rebaixam a sua dignidade de ser humano? Que vida é esta que se festeja, na qual se faz totalmente uma apologia ao sexo, as drogas? Que vida é esta que se festeja, quando você pensa estar vivendo a Liberdade, mas é o outro, imbuído no sistema que está te controlando?
Já faz algum tempo que perdemos nosso verdadeiro Carnaval. Não se vive da verdadeira alegria. Quantas brigas por causa da embriaguez. Infelizmente muita coisa ao invés de edificar nossa juventude, está rebaixando-a ainda mais em seu real valor. Aumenta ainda mais os suicídios, as síndromes do pânico, a depressão. Qual o sentido você tem abraçado para sua vida? Adélia Padro vai dizer que o que confere dignidade a vida é o que dá sentido a ela. Perdemos o sentido da vida porque muitas vezes a esvaziamos da realidade e buscamos algo fora de nós que pode estar mais dentro do que fora, para preencher nosso vazio. Fugimos para nao enxergar a realidade que nos cerca, fugimos da reflexão e da meditação. Tudo isso, para não pensarmos em nossa real condição e nossas faltas cometidas. Quando paramos para pensar temos a oportunidade de experimentar o perdão. Temos que inverter as nossas buscas por preencher nossos vazios. Nós somos sujeitos de nós mesmos e de nossa caminhada e muitas vezes buscamos nos outros ou nas coisas, repostas que se encontram dentro de nós mesmo.
O verdadeiro sentido se faz quando me encontro com minha humanidade que é tão imbuída da presença de Deus que me criou. Aí sim nos colocaremos na condição de criaturas e totalmente dependentes deste verdadeiro amor que se traduz como Ágape, único capaz de me amar de fato e de me ajudar a viver minha humanidade, fazendo com que eu também viva este amor na Caridade aos irmãos e irmãs. Quanto mais humanos formos, mais divinizados seremos! A Quaresma é este tempo de graça que Deus nos concede para pensarmos em nossa humanidade. Para adentrarmos o Deserto da vida, a nossa intimidade e para purificá-la, preenchendo-a do único e verdadeiro Amor. Ao terminar os dias de Carnaval, após muitos viverem exageradamente os excessos da “carne”, porque estão em busca por preencher este vazio. Eis que a Igreja como Mãe nos convida a adentrarmos o Deserto da vida com Cristo e a enfrentarmos as tentações que nos afligem não para deixarmo-nos vencer por elas, mas para que guiados pelo Espírito Santo possamos vencê-las, não só na Quaresma, mas durante toda nossa vida. Vivemos bem este tempo de Graça! Lembre sempre desta frase: “Quando a vida se fez noite, Ele se fez estrela brilhante. Quando os medos atormentaram, Ele se fez cessar as ondas. Quando tudo pareceu perdido, Ele apontou o caminho. Ele ensinou a caminhar”.

Wesley Pires dos Santos
2º Ano de Teologia.

-Escrevi esta reflexão após o Retiro ESPIRITUAL com o tema: "A Espiritualidade da FALTA". Deixemo-nos guiar por Deus nesta caminhada Quaresmal alcançando o mais profundo do Deserto da nossa existência. Que caminhemos sempre orientados por Ele que é Deus e Homem verdadeiro-